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Densa Magia - Saga Densa Magia - Saga original

Densa Magia - Saga

Author: Ditmar_Channel

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Chapter 1: Devesa Menosprezada

O sol alto no céu ilumina o caminho aberto recentemente na floresta isolada pelo tempo, cobrindo quase cem mil metros quadrados de mata densa, o único sinal de vida é a rala fumaça que sobe por entre a folhagem. Ao pé de uma árvore Enoque acorda de sua noite de sono, ele retira o capuz da camisa roxa de sua cabeça e passa a mão em seu cabelo azul escuro, da raiz até seus ombros, o comprimento o incomoda pois prefere um corte mais curto. Com os raios de sol refletindo em sua pele branca, ele levanta de sua cama improvisada feita de folhas e galhos, bate em sua calça baggy marrom para retirar qualquer sujeira e olha para a pequena pilha de galhos queimados aos seus pés que o lembra de entrar em contato com sua companheira.

— Ela já deve ter acordado. Espero que o humor dela esteja um pouco melhor hoje.

Seiscentos quilômetros seguindo ao noroeste da floresta, calor emana de dentro da grande torre de pedra, tão alta que aparenta tocar o céu. Passando pelo salão da entrada, subindo a escadaria que percorre o local, e seguindo os cristais luminosos nas paredes dos longos corredores, se encontra a grande Biblioteca de Babel, belas estantes de madeira rústica separadas em dois andares, cada uma completamente cheia de livros de todas as variedades, conhecida como a segunda maior biblioteca do mundo moderno apesar de ser de uso exclusivo dos membros do Zodíaco, nas palavras do próprio Enoque, "o maior tesouro que esta Torre guarda". No centro da sala, cercada por todo este "tesouro" se encontra a fonte do calor, a pequena mulher não deve ter mais que um metro e meio de altura, no entanto sua presença enche uma sala inteira, seu cabelo laranja cortado na altura de seu pescoço se assemelha à labaredas, assim como sua personalidade, sentada impaciente lendo um grande livro ela bate com os dedos com força na mesa.

— Você poderia me ajudar, Sunna? Tenho que fazer algo e preciso de uma mão, Sunna.

Resmunga em voz alta a garota enquanto folheia rapidamente as páginas do livro.

— Eu tenho uma ideia! Que tal da próxima vez eu sair em busca de um jardim perdido a milênios, enquanto você fica aqui sentado, bancando o guia!

Gritando exaltada a garota usa ainda mais força e acaba arrancando uma das páginas.

— Correndo o risco de acabar em uma cova rasa. Você encontrou algum livro que possa me ajudar, Sunna?

A voz do rapaz é ouvida apenas pela garota, enquanto a biblioteca permanece quieta.

— O Castor disse que só pode manter esta conexão por…

— Calado, não estou aqui pra ouvir suas explicações!

Grita a garota! Metaforicamente incinerando o silêncio e literalmente a página que ainda segurava. Seus olhos laranjas parecem pequenas e furiosas estrelas em seu rosto cor de caramelo.

— Por que você não fez sua pesquisa antes de sair da torre?

— Quero terminar isso rápido. Só aceitei o trabalho pois foi um pedido "especial" e como você se ofereceu para me ajudar quando precisasse… não pensei que seria tão incômodo.

A calma na voz do rapaz espelha sua expressão despreocupada.

— Quando ofereci minha ajuda a ideia não era essa. Livros são para velhos que não conseguem se desprender do passado. Em outras palavras, você!

Responde com vivacidade ao olhar para as estantes da biblioteca. De forma visível, pequenas labaredas emanam da garota, chamuscando sua camisa branca e minissaia jeans. Sunna fica de pé de forma brusca, o que faz sua cadeira cair para trás. Com as duas mãos ela pressiona com força a mesa de madeira, apesar de pequena, a jovem mulher é incrivelmente forte e atlética, com um corpo definido e seios modestos, silhueta que fica ainda mais aparente quando combinado com seu gosto por roupas curtas e justas.

Na floresta, Enoque caminha lentamente por entre galhos e pedras soltas até chegar em um riacho ao qual ele decide seguir, indo contra a correnteza.

— Se serve de algo, realmente aprecio a sua ajuda. Este trabalho me traz memórias que não gostaria de lembrar, ter alguém com quem conversar enquanto estou aqui me deixa mais tranquilo.

A onda de calor que era sentida na torre tornou- se mais tolerável. Sunna ergue sua cadeira e volta a ler.

— Não me agradeça, só estou ajudando pra que você fique me devendo uma. Voltando à sua pergunta, encontrei um livro com mapas topográficos de onde você diz estar. Não existe nenhum registro de jardim, floresta, ou potinho de plantas nessa área. Você deve ter se enganado e me passado a informação errada… ou talvez não tenha sido um engano.

O livro empoeirado irrita a garota quase tanto quanto a dúvida em sua cabeça. A temperatura na torre volta a subir e a leve brisa que pode ser sentida na floresta ganha força. Enoque para de caminhar, ele havia insistido em vir sozinho, e que os dois mantivessem contato através da magia do Castor, membro do Zodíaco especializado em comunicações e titular Gêmeos. No entanto Sunna não aceitou ficar para trás sem uma razão, foi quando ele inventou que precisava que ela procurasse por livros que o ajudassem neste trabalho.

— Sendo honesto, não achei que você realmente fosse procurar livros por mim. Você quer que diga onde estou de verdade?

Enoque fala enquanto passa a mão na cabeça, esperando a resposta apreensivo, não que ele desconfie da garota, mas prefere manter sua localização em segredo, para ele é melhor que alguns lugares permaneçam perdidos.

Na Torre, Sunna fecha o livro e levanta da cadeira, sua camisa com uma manga caída deixa a vista seu macacão de ginástica preto, algo que sempre está vestindo por baixo de sua roupa normal.

— Quer saber, não importa, o que importa é que não preciso mais ler esta velharia. Mas já que mentiu pra mim, vamos jogar um pouco… Aquário.

— Do que você está falando?

— É simples. Já que tenho que ficar conversando com você, ao menos me mantenha entretida.

Enoque começa a suar. Seus olhos abrem e garganta seca, pensando nas possibilidades enquanto aguarda uma resposta. Sunna pode gerar calor com sua magia, ao ponto que o próprio oxigênio em sua volta entra em combustão, considerando que ela está atualmente dentro de um local lotado de papel e madeira, e que ela não dá a mínima para aquelas coisas, seu "jogo" pode custar caro.

A garota anda com graça em direção a uma das estantes repletas de livros, examina bem suas escolhas, estica o braço para pegar um livro e volta para o centro da biblioteca.

— As regras são simples, se a conversa ficar chata, ou me irritar de alguma forma…

Com o braço esticado, Sunna segura o livro em sua mão na altura de seu rosto, a temperatura sobe de forma brusca em torno de seu corpo e então — frusss… — O livro começa a queimar, envolto por chamas laranjas.

— … seu "tesouro" vai perder parte de seu valor.

Enoque volta a andar, agora com passos rápidos ele continua sua jornada seguindo o riacho.

— Tentar não irritar você é como tentar desviar as gotas da chuva… frusss…

Suor frio corre por sua testa.

— Não pinte uma imagem tão horrível minha, se estou de mal humor a culpa é sua.

— Não aja como se essa não fosse sua personalidade normal… frusss…

Seus olhos fecham ao ouvir aquele som.

— Mais algum comentário? Tenho uma infinidade de materiais inflamáveis à minha disposição.

A garota faz uma pequena pilha de livros no centro da biblioteca. O meio sorriso em seu rosto brilha pela luz da fogueira feita de livros.

Enoque caminha quieto, por alguns minutos o único som vindo da floresta perdida é o do próprio silêncio.

— Frusss… Por quê?

Grita o rapaz com indignação.

— Não me ignore!

Sunna joga o livro em chamas junto dos outros e senta no chão ao lado de sua fogueira, o brilho do fogo hipnotiza a jovem que sorri com tranquilidade.

— Será que pode ao menos me dizer o que procura aí?

— Uma fruta. Do tipo que apenas existe aqui.

— Ela faz algo especial? Tipo… se comer ela você se transforma em um demônio.

— Fala por experiência própria?

— Me desculpe, o barulho da fogueira me distraiu. Poderia repetir o que disse?

— A fruta não tem nada de especial. Os livros dizem que quem come essa fruta se aproxima de Deus, mas isso não passa de uma lenda criada em torno de uma fruta que só pode ser cultivada neste local em que estou, e como eu poderia contar nos dedos de uma mão a quantidade de pessoas que encontrou este lugar até hoje, a lenda acabou se tornando um conto de fadas, basicamente.

— Um monte de merda, basicamente.

— Acho que pode chamar assim.

— Hum… isso levanta outra questão, como você sabia onde encontrar o Éden?

Enoque para de caminhar.

— Não achei que você conhecesse a lenda do Jardim do Éden.

— Me subestimar é um erro fatal. O Alexandre me fez passar pelos melhores instrutores que o dinheiro e poder dele pôde arranjar.

Um olhar vago e seco aparece ao mencionar aquele nome.

Enoque volta a caminhar.

— Admito que subestimei sua inteligência. Não vai acontecer outra vez. Lembro de quando seu pai era apenas um soldado, ele é um homem admirável, você me lembra muito… frusss…

— A propósito, eu não chamaria mais o Éden de "lenda" já que acabou de me provar que ele existe, e você não respondeu minha pergunta.

— Já estive aqui antes. Mas isso faz muito tempo, tanto que minhas lembranças já estão meio vagas.

— Falando em tempo. Quanto tempo mais você pretende levar?

Sunna pergunta já deitada no chão da biblioteca.

— Acha que não tenho nada melhor para fazer?

— Oh! Me desculpe, princesa. Longe de mim atrapalhar sua ocupada agenda. O que você tem marcado para essa semana? Festa ou compras?... frusss… Você pode até queimar meus livros, mas não pode queimar a verdade.

Sunna coloca as mãos no chão e se impulsiona, saltando para ficar de pé.

— Uhu, encontrou o que sobrou de sua coragem? Vamos ver quanto tempo irá durar!

— Vai me provocando, Áries. Quando eu voltar…

Enoque para de falar e andar, seus olhos arregalam e boca abre. Em um tom tão baixo que quase não pode ser ouvido ele fala com sua companheira.

— Sunna, acho que encontrei a árvore que procuro.

— Por que está sussurrando?

— Tenho meus motivos.

No jardim perdido, Enoque olha para o que diz ser a árvore que procurava, o tronco era tão grande que era preciso dez pessoas para contorná-lo, os galhos da copa eram longos e tão embaraçados que a luz do sol tinha dificuldade em atravessar, a folhagem longa e grossa senta sobre a árvore como uma coroa, enrolada no tronco desta árvore está uma serpente branca, tão grande quanto o rio que o rapaz seguiu até ali, para seu alívio ela parecia estar dormindo, cada uma de suas escamas poderia encher uma mão, duras o bastante para segurar uma lâmina sem nenhum problema. Seria aquele monstro a razão que nenhum outro animal parecia viver na floresta? No entanto, a atenção de Enoque estava voltada para outra coisa, algo mais perturbador que um animal de proporções gigantescas. Sentada na cabeça da serpente gigante, uma bela mulher joga o fruto que ele buscava para cima como se fosse uma pequena bola, seus longos cabelos são vermelhos como sangue e voam com o vento que voltou a soprar pela floresta, ela usa um vestido marrom visivelmente surrado com botas pretas de cano longo que acentuam sua pele pálida como a neve, seu cabelo caído sobre o rosto não escondiam seus olhos vermelhos, que sem piscar, não perdem o foco do rapaz parado alguns metros em sua frente.

— Tem uma mulher aqui.

— E você fazendo toda uma cena para manter o lugar secreto. Deve estar se achando um idiota agora.

— Não é hora para piadas…

O rapaz desviou o olhar por um segundo, que foi o bastante para a mulher desaparecer.

— Teletransporte?

— Do que você está falando? Não me deixe no escuro!

— Ela desapareceu.

— Você causa isso nas mulheres.

— Espero não me arrepender por ter vindo sozinho…

Enoque sente algo tocar suas costas, a sensação parecia com a de ossos. De forma instintiva ele salta para frente, tão rápido que por um instante sua presença ocupou dois lugares ao mesmo tempo.

Sua respiração acelera junto de seu coração, com suas magia ele sabe que pode fugir sem problemas se a situação pedir, no entanto uma sinistra sensação de Déjà vu o faz encarar a misteriosa mulher de frente. Enoque respira fundo e organiza seus pensamentos, tentando começar uma conversa e extrair alguma informação, ele tira uma página do livro de sua companheira e faz uma piada para quebrar a tensão.

— Sem tocar no primeiro encontro… frusss…

O som faz ele desviar o olhar novamente.

— Será que você pode parar com isso?!

A mulher volta a desaparecer, deixando para trás a fruta que segurava.

— Você é impossível, Sunna.

Enoque se agacha para pegar a fruta no chão, com uma das mãos ele segura o objeto pensando no que aconteceu.

— E sua nova namorada? Não vai ir atrás dela?

— Já consegui o que queria, vou voltar agora. Mas não me sai da cabeça que já vi aquela mulher antes… frammm…

O rapaz segura com força a fruta e volta a se levantar.

— Sunna, esse barulho foi diferente! O que você fez?

— Desta vez não fui eu.

— Oh…

Enoque se vira e vê a serpente olhando para ele. Em um instante ela dá o bote, os segundos se esticam, os dentes do animal aparecem quando ela abre sua enorme boca, em menos de um segundo a serpente toca o chão, a força do ataque é tamanha que as árvores em seu caminho são arrancadas e pedregulhos do tamanho de uma carruagem voam metros de distância. O tempo volta a correr.

Enoque joga a fruta para o alto em segurança, olhando para a distante nuvem de poeira causada pelo ataque da serpente.

— Sinto muito mas não pretendo brincar com você hoje.

Falou ao desaparecer para longe do jardim perdido.

A serpente confusa ergue a cabeça procurando o rapaz, mas aos poucos ela perde suas forças, sua cabeça volta a tocar o chão, seus olhos perdem o brilho e por fim ela para de se mover.

— Volte a dormir, Nachash.

Uma mão esquelética toca o corpo da serpente com carinho. No jardim, a figura sinistra da mulher, antes aparentando ser normal, agora se mostrando nada mais que ossos, mas ainda vestida e com seus cabelos balançando ao vento. Aos poucos sua aparência começa a mudar, seus órgãos internos, músculos e por fim a pele voltam a cobrir seu medonho esqueleto.

— Ksh…

O som que a mulher faz ao sorrir causa arrepios em que escuta, seu cabelo de sangue cobre o rosto, mas seus grandes olhos vermelhos esbanjam excitação ao olhar para o céu.

— Parece que a senhora sorte finalmente resolveu sorrir para mim.

Falou ao se afastar do cadáver da serpente, desaparecendo para longe do jardim perdido.


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