Um Lar Chamado Você
Um Lar Chamado Você
A vida no último ano do ensino médio sempre pareceu uma contagem regressiva. Para mim, não era diferente. Eu acordava todos os dias com aquela sensação de estar prestes a pular de um penhasco, sem ter certeza se o salto era para a liberdade ou para o desastre.
Meus pais tinham planos para mim — planos que nunca foram realmente meus. Faculdades caras, comportamento exemplar, e um futuro que parecia mais a extensão dos sonhos deles do que os meus. Eu obedecia porque era mais fácil. Fingir era mais fácil.
Mas havia algo que eu não fingia: meu amor por Lucas. Ele era… o tipo de garoto que todo mundo queria. Bonito, atlético, confiante. O tipo de presença que enchia um lugar, fazendo parecer que todas as conversas e todos os olhares orbitavam em torno dele. Para mim, ele era tudo o que eu achava que precisava. E talvez fosse por isso que eu ignorava os sinais de que nem sempre ele era o “príncipe” que todo mundo via.
Lucas é o irmão mais novo de Jerry. E Jerry… bom, ele foi meu melhor amigo.
Nossas famílias são próximas há muitos anos... eu ele éramos como carne e unha. Nós crescemos juntos, dividindo verões, jantares de família e segredos de criança. Mas isso acabou sem que eu entendesse exatamente por quê. Um dia ele simplesmente se afastou. Talvez porque estivesse ocupado demais com a faculdade, talvez porque, em algum ponto, eu tenha deixado de ser importante.
O que eu sabia é que, quando ele apareceu no último jantar em família, Jerry já não era mais o garoto que eu lembrava. Estava mais maduro, com aquela postura de quem carrega responsabilidades grandes demais nos ombros. E não estava sozinho.
Ao lado dele estava Melissa. Linda, perfeita e… namorada dele. Mais do que isso, quase noiva. Eles falavam em casamento como se fosse o passo mais natural do mundo, e todo mundo na mesa sorria e dizia o quanto formavam um casal incrível.
Eu sorri também. Porque o que mais eu poderia fazer? Eu não tinha nenhum direito sobre ele, e respeitei isso. Respeitei tanto que me afastei ainda mais.
Mesmo sem saber ao certo por que, no fundo, a ausência dele ainda pesava. Como se a amizade tivesse terminado antes de eu estar pronta para deixá-la ir.