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70% Genius! A Lenda dos Temidos Djinns e das Areias do Desejo! / Chapter 6: Desejo 6 - Conexão entre Djinn e Mestres Pt. 2

Chapter 6: Desejo 6 - Conexão entre Djinn e Mestres Pt. 2

O intervalo das aulas finalmente chegou. Gabrielle e Daniela estão sentadas em bancos de pedra, à sombra de uma frondosa mangueira, no vasto pátio aberto da escola, a cerca de quinhentos metros da estrada do colégio, e bem afastadas da parte coberta onde ficam as salas de aula. Gabrielle, com seus óculos redondos de leitura, está concentrada em um roteiro, enquanto Daniela mastiga uma barra de cereal, observando a amiga ensaiar em silêncio.

— Alguma audição hoje, Gaby? — pergunta Daniela, com um sorriso curioso, enquanto vê Gabrielle mergulhada no papel.

— Sim! — responde Gabrielle, quase como se estivesse esperando ansiosa por essa pergunta. Seus olhos brilham enquanto continua, cheia de empolgação. — Vai ter uma adaptação de Dom Casmurro no teatro municipal. A companhia está chamando todos os alunos para o teste, até os iniciantes, como eu! — Ela fala com um entusiasmo que mal cabe em si.

Daniela observa o brilho no olhar da amiga e, meio distraída, deixa escapar:

— A escola de teatro que você faz é super tradicional, né?

Gabrielle não perde tempo e responde com um sorriso orgulhoso.

— Sim! Eu estudo no "O Palco". Foi fundada na década de 50, pela lendária Mary Clair Martelo. É o maior e melhor curso técnico de atuação do país! Muitos dos grandes atores que você vê por aí começaram lá e...

ROOOOONNNNC! Um som vergonhoso ecoa no ar, cortando a frase de Gabrielle. Seu estômago ronca de forma escandalosa, deixando as duas em completo constrangimento. Daniela olha preocupada para Gabrielle.

— Você não tomou café da manhã de novo, né? Por isso você está com essa aparência abatida. — Daniela suspira, tirando uma barrinha de cereal da bolsa e entregando-a para a amiga. — Minha mãe me colocou de dieta, se você se esforçar, quem sabe fica gostosinha... — brinca, com um leve sorriso.

Gabrielle sente a boca se encher de saliva no mesmo instante em que vê a barrinha de cereal. Seu estômago, vazio e faminto, parece ansiar por aquilo.

— Você tá sempre me salvando, Dani! Obrigada! — Gabrielle agarra a barrinha de cereal como se fosse um prêmio de grande valor e logo começa a saboreá-la.

De repente, um burburinho agitado se espalha pelo pátio. Alguns alunos começam a correr em direção ao portão da escola. Gabrielle e Daniela trocam olhares, claramente confusas.

— Que estranho... o que será que está acontecendo? — Daniela pergunta, já sabendo que Gabrielle não teria a menor ideia.

Vendo o crescente amontoado de estudantes perto do portão, Daniela avista Jéssica Caldeira, a líder da classe, e a chama ao passar.

— Ei, Jéssica! Que confusão é essa?! — pergunta Daniela, tentando entender o que está causando tanto alvoroço.

— Tem um cara estranho, que parece um Xeique Árabe, tentando entrar no colégio! — exclamou Jéssica, quase como se estivesse compartilhando o último furo de uma revista de fofoca, enquanto se aproximava das meninas que estavam sentadas no pátio.

— Xeique Árabe? — Daniela franziu o cenho, o brilho da curiosidade dançando em seus olhos. O que poderia ser mais interessante do que um "Xeique" no colégio?

Gabrielle, que até então estava concentrada em devorar animadamente a barrinha de cereal oferecida por Daniela, parou no meio da mordida. "Xeique Árabe?" A informação fez seus ouvidos se arregalarem como antenas parabólicas. Seu coração começou a bater um pouco mais rápido – não por causa da barrinha, claro, mas pela menção de alguém misterioso que só podia estar relacionado ao que mais a preocupava: Farid. Será que era ele?

— Parece um daqueles caras de Dubai! — Jéssica continuou, claramente adorando o papel de repórter da situação. — Eu to doida pra ver! Me mandaram no ZAP que o capanga dele tá lá, ameaçando o Seu Zé com um pedaço de ferro no portão!

Gabrielle quase engoliu a barrinha sem mastigar. "Capanga? Pedaço de ferro?" Os pensamentos sobre Farid, vestido como um "Xeique" e fazendo pose na frente da escola, invadiram sua mente, fazendo-a suar frio. "Mas Farid não tem capangas... ou tem?" Ela nem teve tempo de processar direito essa ideia maluca antes de engasgar com a barrinha, começando a tossir descontroladamente.

— Tá tudo bem aí, Gaby? — perguntou Daniela, arqueando as sobrancelhas ao ver a amiga quase se afogando com um simples lanche.

Gabrielle, ainda meio sufocada, conseguiu acenar com a cabeça e, com a voz rouca, murmurou:

— T-tudo bem... só engasguei.

Mas não estava tudo bem. Sua mente estava a mil. "Por favor, que não seja o Farid, que não seja o Farid... Onde ele teria arranjado um capanga, ainda por cima com uma barra de ferro?!" 

Enquanto isso, Daniela, empolgada com o mistério, deu um pulo do banquinho, seus olhos brilhando de antecipação como uma criança prestes a abrir um presente.

— Bora lá ver a treta, Gaby! Como minha família é libanesa, se o cara for árabe mesmo, eu vou conseguir conversar com ele, e saber mais do que está acontecendo — disse ela, mais uma ordem do que um convite, praticamente arrastando Gabrielle em direção ao portão da escola.

Gabrielle hesitou. A última coisa que ela queria era dar de cara com Farid no portão principal, rodeado de estudantes curiosos, e ainda com um "capanga"! Mas a empolgação de Daniela era quase contagiante, e Gabrielle acabou cedendo, se levantando devagar e soltando um suspiro resignado.

— Tá... bora lá... — murmurou, com um misto de apatia e nervosismo.

Enquanto elas caminhavam em direção ao portão, Gabrielle não conseguia afastar a sensação de que, seja lá o que fosse, o dia estava prestes a se tornar muito mais complicado do que deveria ser.

***

O Colégio Dom Pedro I, um dos mais tradicionais do Brasil, era quase uma instituição lendária. Localizado em uma rua estreita no coração do Rio de Janeiro, o campus principal do colégio ocupava um quarteirão inteiro. A rua era charmosa, com carros estacionados de um lado e edifícios comerciais elegantes do outro, além de árvores que proporcionavam uma sombra acolhedora. Mas a tranquilidade daquela manhã estava prestes a ser quebrada por uma confusão digna de filme.

Tudo começou no portão principal, o famoso e imponente portão duplo de ferro do Dom Pedro I, onde o porteiro Sr. José Macedo, carinhosamente chamado de Seu Zé pelos alunos, segurava firme a entrada. Ele não estava lidando com uma situação comum de estudantes atrasados. Dessa vez, dois homens tentavam, de todas as formas, entrar na escola, alegando que algo muito perigoso poderia acontecer se fossem barrados.

— Eu não vou repetir! Não vão entrar sem autorização! — vociferava Seu Zé, suas mãos apertando o portão como se a segurança de todo o colégio dependesse dele.

De um lado, estava o visitante misterioso, vestido como se tivesse acabado de desembarcar de um jato particular direto dos Emirados Árabes. O homem parecia ser um verdadeiro xeique. Ele usava um terno preto bem cortado, com uma camisa branca e um blazer extravagante incrustado de safiras, com arabescos dourados bordando a lapela e os punhos. Um rabo de cavalo alto preso por prendedores de ouro dava-lhe uma aparência tão sedutora quanto autoritária. Ao seu lado, o contraste era cômico: um homem de bermuda jeans, camisa polo vermelha e chinelos Havaianas segurava uma haste de alumínio. Se a moda fosse uma batalha, o cara de chinelo teria perdido na primeira rodada.

— Senhor, é muito importante! Uma aluna corre perigo! — insistia Guilherme Oshiro, o suposto capanga de chinelo, visivelmente nervoso. Ele segurava a haste de alumínio com tanto esforço mesmo não percebendo que estava com ela em mãos.

Seu Zé, que já estava perdendo a paciência, respondeu com um tom afiado:

— Perigo vai correr você se continuar me ameaçando com esse pedaço de ferro! — Ele apontou com o queixo para a haste que Guilherme segurava como se fosse uma arma mortal.

— Não, senhor, não é isso... Isso veio sem querer... — murmurou Guilherme, constrangido. É sério isso? Teletransportado com a peneira de piscina?!, ele pensou, amaldiçoando Farid por sempre fazer as coisas do jeito dele.

— Gui, dá licença — disse o "xeique" com uma voz cheia de autoridade. Ele se adiantou, empurrando Guilherme de lado com um movimento elegante. — Você não tem tato para lidar com as pessoas. Deixe que eu resolvo isso.

Farid, o suposto xeique, assumiu o controle da situação com uma postura imponente e um olhar que parecia exigir reverência. Do outro lado do portão, os alunos que haviam se reunido para assistir ao espetáculo não conseguiam esconder a empolgação. Um burburinho se espalhou rapidamente, com celulares prontos para registrar cada detalhe da cena.

— Ih, o cara de Dubai se meteu! — exclamou um dos estudantes, enquanto outros soltavam risadinhas e trocavam comentários animados.

— Taca um maço de dinheiro nele! — gritou outro, com um tom desafiador, alimentando ainda mais a algazarra.

— Taca dinheiro em nós! — retrucou um terceiro aluno, rindo enquanto outro colega acrescentava, mais alto ainda:

— Abre o portão e deixa o ricaço entrar, Seu Zé!

O alvoroço só aumentava, e cada comentário parecia inflar o ego de Farid. Ele absorvia o momento como se fosse uma estrela num palco iluminado. "Ah, sim, a atenção que mereço," ele pensava, com um sorriso malicioso no rosto. Decidido a se aproveitar da situação, Farid viu a oportunidade perfeita para dar o próximo passo.

Com um gesto dramático, ele enfiou a mão dentro do paletó. O brilho que surgiu de repente fez todos ao redor arregalarem os olhos, inclusive Seu Zé, que instantaneamente ficou apreensivo.

— Se você puxar uma arma, eu vou chamar a polícia! — gritou Seu Zé, dando um passo atrás e se escondendo parcialmente na cabine da portaria. A tensão era palpável, e o ar pareceu parar por um segundo.

Farid, no entanto, manteve seu sorriso cativante, seu olhar firme e tranquilizador.

— Calma, meu bom homem, eu jamais pensaria em usar a violência — respondeu ele com sua voz aveludada, como se estivesse acalmando um público ansioso em um show.

Com um movimento elegante, Farid retirou de dentro do paletó... um envelope. Mas não era um envelope comum, não. O tamanho dele era completamente inconsistente com o espaço disponível dentro do blazer, e isso já causou um murmúrio entre os alunos. Como aquele envelope cabia ali? O mistério só deixava Farid ainda mais intrigante aos olhos dos espectadores.

Seu Zé, sem entender absolutamente nada, pegou o envelope com cuidado. A cada segundo que passava, ele se sentia mais nervoso. Com mãos trêmulas, abriu o envelope e, ao ver o conteúdo, seus olhos se arregalaram. Um sorriso bobo se formou em seu rosto, e ele teve que se apoiar na cabine para não cair. Lá dentro estava algo que ele nunca imaginou que veria na vida: uma quantia absurda de dinheiro.

— Mas... isso é sério? — balbuciou Seu Zé, completamente pasmo. Seus olhos brilhavam como os de uma criança ao ver seu presente de Natal dos sonhos.

— Eu sou sempre muito sério, meu caro — respondeu Farid, com aquele sorriso carismático de quem sabe que acabou de ganhar o jogo. — Agora, por favor, abra o portão e nos deixe entrar.

Seu Zé, ainda sem acreditar, apenas balançou a cabeça e disse: — Claro, senhor, é pra já! — A felicidade em sua voz era evidente, e o porteiro já sonhava com tudo que faria com aquele dinheiro. "Quem diria que hoje seria o melhor dia da minha vida?", pensou ele.

Com a maior prestatividade que já havia demonstrado em sua carreira, Seu Zé abriu o portão, praticamente em câmera lenta, enquanto os olhos de todos os alunos estavam colados na cena.

— O Xeique comprou o Seu Zé! — gritou um dos estudantes, seguido por uma onda de piadas.

— Me compra também! — disse outro, rindo.

— Eu também sou porteiro! — brincou mais um, provocando risadas histéricas entre os alunos, que agora viam Farid como uma espécie de lenda viva.

Farid, com um gesto de cabeça elegante e um sorriso triunfante, passou pelo portão com Guilherme ao seu lado. O "capanga de chinelo" também parecia impressionado com o desenrolar dos eventos. "O Farid realmente não tem limites…, ele continua gastando as Areias do Desejo.", pensa o jovem Oshiro, segurando de forma tensa a haste de ferro.

E assim, o "Xeique" e seu fiel capanga haviam conquistado o Colégio Dom Pedro I... pelo menos por enquanto.

***

Farid e Guilherme adentraram o átrio do colégio, com o primeiro ostentando uma expressão de vitória. O Sr. Zé, ainda extasiado pela "gorjeta" que recebera, fechou o portão duplo para conter a curiosidade dos alunos e abriu passagem para que os dois visitantes cruzassem o pátio. Farid não perdeu a chance de enviar sorrisos de triunfo a Guilherme, que seguia ao seu lado, ainda atônito com o que acabara de testemunhar.

— O seu tato com as pessoas é subornar o porteiro? — murmurou Guilherme, sem conseguir esconder a irritação na voz.

Farid lançou um olhar evasivo para Guilherme, como se tentasse encontrar uma justificativa razoável para o pequeno espetáculo que havia armado minutos antes.

— Qual é, funcionou, não funcionou? — respondeu o Djinn em tom casual, tentando minimizar a situação.

Guilherme, no entanto, levou uma das mãos ao rosto, exasperado. A atitude de Farid, embora eficaz, estava longe de ser prudente.

— Você está gastando as Areias do Desejo como se fossem água! Tem noção de que um Breu pode aparecer a qualquer momento e atacar a Gabrielle!? — Guilherme retrucou, claramente frustrado, acompanhando Farid e o Sr. Zé.

— Meu uso é sempre para coisas estritamente necessárias — respondeu Farid, desviando o olhar e apressando o passo, como se quisesse encerrar a conversa ali mesmo.

— Necessário?! Vamos ver… atravessar paredes, teletransporte, roupas extravagantes, conjurar dinheiro... Eu tô surpreso que ainda não tenha aparecido nenhum Breu! — enumerou Guilherme, sentindo uma raiva crescente se apoderar dele.

Farid apenas deu de ombros, como se todos esses "detalhes" fossem insignificantes.

— Isso são apenas detalhezinhos — disse Farid com desdém, tentando enterrar o assunto de uma vez por todas.

Enquanto avançavam pelo pátio, a multidão de alunos curiosos tornava o caminho mais lento, e Guilherme começava a sentir algo muito estranho. Uma sensação incômoda de tontura e calafrios tomou conta de seu corpo. O nervosismo estava evidente, e ele não sabia dizer se era por causa da discussão ou por algo mais sinistro.

— Aliás… — começou Guilherme, com a respiração cada vez mais pesada. — Usar as Areias do Desejo desse jeito, não seria o mesmo que realizar desejos? Como um sinalizador… que mostra exatamente onde você está, não?

Farid, distraído com seu próprio orgulho, parecia alheio à mudança repentina no comportamento de Guilherme. A calma despreocupada do Djinn só fazia a raiva dentro de Guilherme crescer mais e mais. Seus tremores aumentavam, e sua pele começava a empalidecer visivelmente, como se algo estivesse errado, algo que nem ele mesmo conseguia explicar.

Cada passo que ele dava parecia mais pesado, e seu corpo, mais fora de controle.

— Fica tranquilo, confia no pai — disse Farid, com aquele tom confiante que irritava ainda mais Guilherme. O jovem Oshiro, cada vez mais impaciente, batia a haste da peneira de alumínio no chão, como se quisesse descarregar a tensão crescente que sentia.

Farid, Sr. Zé e Guilherme caminhavam pelo pátio, avançando em direção à imponente mangueira que ficava no centro da escola. Era o ponto de encontro favorito dos alunos, cercada por bancos e com uma sombra agradável que aliviava o calor carioca. Farid continuava com sua postura confiante, lançando sorrisos e olhares carismáticos para as estudantes ao redor, como se fosse a estrela de um desfile de moda, enquanto Sr. Zé caminhava ao lado deles, ainda admirando a generosa quantia que recebera.

No entanto, quando o trio estava quase chegando à mangueira, algo mudou no semblante de Farid. Seu andar garboso e seguro desacelerou até parar completamente. Foi nesse momento que ele avistou Gabrielle, parada ali, com uma expressão que fazia até o corajoso Djinn suar frio.


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