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Chapter 4: Gustavo

— Essa sua cara de enterro tá espantando as gatas — disse Victor depois de tomar seu terceiro copo de tequila.

— Já passou das 1h da manhã, é melhor eu ir pra casa — guardou o celular no bolso. Estavam encostados no balcão do bar de uma boate no centro.

— Qual é, Gustavo! Essas são as nossas últimas horas de férias, se você tá achando que vai ter tempo de sair depois que começar as aulas... — riu bêbado. — Está muito enganado... Faculdade é um porre.

— Mas eu também não estou afim de passar o meu primeiro dia de aula de ressaca — coçou o cabelo castanho se sentindo meio tonto. — Por mais que eu ache que agora já seja tarde demais... Droga, Victor! Por que que eu fui aceitar sair com você hoje? — perguntou irritado.

— Porque querendo ou não, você sabia que precisava de um descanso — levantou o copo vazio para o bartender do outro lado balcão, que logo o encheu de tequila novamente. — Você passou o ano passado inteiro se matando de estudar pra conseguir passar no vestibular, até terminou o namoro por causa disso... Aí depois que passou, em vez de curtir um pouco, foi é trabalhar na academia do seu tio... Cara, você precisava disso bem mais do que eu.

— Eu tinha que arrumar um emprego, meus pais já gastaram demais comigo ano pass... — parou quando olhou automaticamente pra frente e percebeu que uma mulher o encarava.

— O que foi?

— Acho que... tem uma mulher me encarando — disse sem tirar os olhos dela.

— Aonde? — perguntou olhando para a multidão.

— Disfarça, seu idiota! — brigou com ele.

— Tá, calma... — disse rindo. — É uma ruiva?

— É... — respondeu voltando a olhar pra ela que ainda o encarava sorrindo.

— E você tá esperando o que? Ela vir até aqui?

— Hum? — olhou para ele sem entender.

— Chega nela, né!

Teve de tomar duas doses de tequila para criar coragem. Não costumava ser tão tímido assim para chegar em mulheres, mas já fazia muito tempo desde a última vez que fizera aquilo. Depois de três anos de namoro e um ano só em casa estudando acabou perdendo o jeito.

— Oi... — disse depois que se aproximou dela tentando não parecer tão tímido. — Eu sou o Gustavo.

— Bia — disse sorrindo maliciosa para ele. Seu cabelo era ruivo, liso com uma franja reta e usava um vestido preto, colado com um decote reto e alça. — Você dança?

— Um pouco — sorriu e ela segurou sua mão e o levou para o meio da boate.

Bia dançava bem até demais, às vezes descia até o chão, levantava os braços, mas sempre olhando para ele como se estivesse tentando seduzi-lo.

— Como se ela precisasse... — pensou aproximando-se dela que apenas sorriu antes de beijá-lo. Agarrou sua cintura puxando-a para si enquanto ela colocava os braços em volta de seu pescoço.

Depois de alguns minutos que Gustavo nem viu passar, foram pra um motel próximo e assim que entraram no quarto, Bia começou a beijá-lo novamente o empurrando para a cama redonda. Tirou o vestido, mostrando uma lingerie preta e um corpo malhado.

— Você é muito perfeita... — foi só o que conseguiu dizer e ela sorriu satisfeita antes de começar a tirar a lingerie.

* * * * * *

Acordou com o toque do seu celular, sentindo a pior dor de cabeça da sua vida.

— Alô! — atendeu a ligação.

— Porra, Gustavo! — xingou Victor do outro lado da linha. — Já tava chamando a polícia...

— Como assim?

— Onde você tá?

— Em cas... — parou olhando para cima e vendo seu reflexo no teto espelhado. — Ah, droga... — tirou o celular do ouvido para ver as horas e já passavam das 8h da manhã. — Merda!

— O que foi? — perguntou preocupado.

— Eu ainda tô no motel... — respondeu levantando-se da cama procurando por suas roupas.

— Eu aqui preocupado e o filho da puta tava era transando... — riu. — Então você pegou mesmo a ruiva?

— Victor, depois a gente se fala, eu tô atrasado pra caralho pra faculdade... — vestia as roupas rapidamente.

— Ah, esquece cara, amanhã você vai!

— Nem fodendo, eu não vou perder o primeiro dia, tchau! — desligou, dando uma olhada rápida no quarto antes de sair. — Uma pena ela já ter ido, queria ter pego seu número...

* * * * * *

Chegou na faculdade na segunda aula com a mesma roupa do dia anterior e nenhum material. Não demorou muito para achar sua sala, que igual as outras, tinha paredes brancas, um ar-condicionado e várias carteiras de plástico, acolchoadas, organizadas em fila. Assim que se sentou em uma delas, uma garota que estava sentada na carteira da fila ao lado o olhou de cima a baixo e riu.

— Deixa eu adivinhar... Encheu a cara ontem e esqueceu que tinha aula no dia seguinte? — perguntou sorrindo.

— Não... Eu sabia que tinha aula no dia seguinte, o que é ainda pior — sorriu para ela.

— Meu nome é Marina e você não perdeu muita coisa... — ela tinha um cabelo preto, ondulado, batendo no ombro e usava um óculos com armação redonda.

— Gustavo — estendeu a mão pra ela. — Ainda bem...

— Bom dia a todos! — disse a professora entrando rapidamente na sala.

— Ei, Marina! — sussurrou chamando-a. — Você pode me emprestar uma caneta? E... uma folha? — perguntou sem graça e ela riu baixo antes de entregá-lo.

* * * * * *

No intervalo, estava sentado na grama do campus da faculdade olhando pra cima com os olhos fechados, sua cabeça ainda doía um pouco.

— Gustavo? — chamou uma voz familiar fazendo-o abrir os olhos.

— Amanda? — assustou-se ao ver sua ex-namorada depois de tanto tempo. — O que está fazendo aqui? — perguntou levantando-se.

— Eu estudo aqui... Me transferi pra cá! — disse animada. Seu cabelo castanho estava bem mais curto, batendo no ombro.

— Por quê? — perguntou percebendo que havia sido direto demais. — Quer dizer, você não gostava da outra faculdade?

— Gostava, mas aqui fica mais perto de casa... — deu de ombros. — E você? Finalmente conseguiu, hein? — sorriu.

— É... — respondeu um pouco nervoso. — Mas que droga! Por que ela tinha que vir logo pra cá? — pensou.

— Então... a gente se vê por aí! — disse saindo.

Quando acabou a aula saiu apressado, pois teria que estar no trabalho às 14h, e também porque não queria correr o risco de esbarrar com sua ex-namorada novamente.

— A gente pode estudar no mesmo campus, mas eu não sou obrigado a ficar topando com ela toda hora! — pensou.

Encontrá-la novamente o fez perceber que ainda não tinha superado totalmente o término, que ainda se sentia bastante ressentido com ela.

Chegando em casa, tomou um banho rápido, almoçou e foi para o trabalho com a sua moto, já se sentindo melhor da ressaca.

Academy, era o nome da academia de seu tio que já tinha várias filiais espalhadas pela cidade. Gustavo trabalhava na recepção de segunda à sexta das 14h às 22h, achava até bastante tranquilo, passava o dia todo sentado atendendo ligações, dando informações e etc.

— Boa tarde, tio! — disse assim que entrou na academia e viu seu tio encostado no balcão da recepção.

— Gustavo! Eu estava te esperando... Nós precisamos conversar — seu tio tinha um corpo malhado e pintava constantemente o cabelo de preto para parecer mais jovem, além de fazer bronzeamento artificial.

— Algum problema? — perguntou, aproximando-se.

— De jeito nenhum! Você sabe que eu estou inaugurando mais uma filial da Academy, não é?

— Sim...

— Eu estava querendo te transferir pra lá... — encarou-o por um tempo. — Você teria o mesmo cargo, mesmo horário e até receberia mais... Sabe, eu quero que essa nova academia tenha um ar mais jovem, entende? E então, o que acha?

— Claro, porque não? — sorriu.

— Ótimo!

— E quem irá tomar conta de lá? — perguntou curioso.

— Eu! — disse seu primo, Murilo, que era ainda mais malhado que seu pai e tinha um cabelo preto e curto. — Agora eu vou ser seu chefe! — riu dando tapas nas costas de Gustavo que já estava tentando pensar numa desculpa para recusar o emprego, mas agora já era tarde demais.

A relação entre Gustavo e seu primo nunca foi das melhores. Murilo sempre foi aquele filhinho de papai que tinha tudo e que adorava esfregar isso na cara de Gustavo. Fazê-lo sentir inveja dele parecia ser seu objetivo na vida e às vezes ele conseguia. Gustavo já havia perdido as contas de quantas vezes na infância chorou desejando ter os brinquedos dele, as roupas dele e até estudar na escola particular caríssima que ele estudava. Com o tempo foi aprendendo a lidar com esse sentimento e até a ignorar as implicâncias dele, mas ainda não o suportava.

— A academia só irá inaugurar mês que vem, mas a partir de amanhã você já pode começar a ir pra lá, ok? — disse seu tio e Gustavo respondeu fazendo sim com a cabeça. — Muito bem... Agora eu preciso resolver algumas coisas, vamos Murilo! — chamou-o já se retirando. — Ah! E não se esqueça do churrasco hoje lá em casa!

— Claro! — disse tentando parecer animado.

* * * * * *

A casa do seu tio era um sobrado verde com muro alto e um portão marrom. Na parte detrás da casa tinha uma grande piscina retangular e um salão para festas que tinha o seu próprio banheiro e cozinha. Quando Gustavo e seus pais chegaram, toda a família já estava lá e no som tocava alguma música sertaneja.

Depois de cumprimentar a todos, sentou-se com seus pais em uma das mesas já contando os segundos para ir embora.

— O Gustavo já contou a novidade pra vocês? — perguntou Murilo de repente, aparecendo por trás da cadeira de Gustavo. — Ele irá trabalhar pra mim agora, na minha academia!

— Você quer dizer do seu pai, né? — pensou se segurando para não dizer em voz alta.

— Ele nos falou sim — respondeu sua mãe. — Eu só espero que não fique muito puxado, agora que ele começou a faculdade de engenharia... — sorriu.

Gustavo sabia o que ela estava fazendo, seu primo nunca tinha conseguido passar num vestibular de engenharia, mesmo estudando nas melhores escolas e nos melhores cursinhos. Acabou desistindo e fazendo um curso a distância de administração que havia terminado no ano passado. Ainda lembrava de sua mãe lhe contando que ele não havia gostado nada de saber que Gustavo tinha conseguido.

— Acho que você é o único que ainda não conheceu a minha namorada — disse Murilo, com a cara fechada, para Gustavo, mudando completamente de assunto. — Amor, vem cá! — chamou-a irritado, sua mãe realmente havia tocado em uma ferida. — Dá uma olhada boa — sussurrou no ouvido de Gustavo. — Pois esse é um tipo de mulher que você nunca vai pegar... — levantou-se com um sorriso, puxando a namorada para o campo de visão de Gustavo. — Gustavo, essa é a Bia! — apresentou-a e Gustavo não sabia se ria ou se chorava.


CREATORS' THOUGHTS
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Olá : )

Desculpem o atraso!!

Muito obrigada por ler : D

E até a próxima <3

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