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Chapter 2: Cidade Mágica de Héstia, O Último Desejo

Continente Bloowind, Sul do Reino dos Ventos, províncias da Capital dos Ventos

Cidade Mágica de Héstia, talvez um nome que se ouvisse hoje em dia, ninguém se recordaria. Sua fama se deu há séculos atrás, quando sua poderosa Mestra da Luz alcançou o título de uma das Doze mais fortes dentre os quatro continentes. Ela se tornou esquecida por conta da queda da Mestra da Luz, que desaparecera sem deixar nenhum rastro. As pessoas dessa cidade esperam que algum dia Héstia volte ao palco, de seu lugar de direito.

A Cidade é bem separada das demais outras em todo o Continente, sendo a única que precisa atravessar dezenas e dezenas de quilômetros de distância para se alcançar, mesmo que detenha o título como uma Província da Capital dos Ventos, a cidade ainda sim é bem isolada, mas segue-se com estradas para diversas outras cidades, tendo então um movimento nas entradas e saídas durante as noites e manhãs.

Na Entrada Norte da Cidade Mágica de Héstia, um carro negro chegava, logo ao entardecer, pouco depois do meio-dia. Nesse carro havia uma passageira no banco de trás que usava uma touca de moletom de cor cinza-bege, os cabelos alaranjados caídos por cima do ombro direito, uma pequena brecha da touca revelava uma faixa branca, recém trocada.

O olhar fraco e sem vida, recoberto pelas olheiras vermelhas, as pupilas oscilavam levemente, quase que imperceptivelmente. O motorista sentia certa dificuldade para respirar, ajeitando sua gravata diversas vezes enquanto os Ventos estavam pesados dentro daquele carro.

Ele estava ciente do poder de sua passageira, mas não acreditava que era tão forte assim, aquilo era uma abominação, surreal, horrível. Queria poder reclamar, mas não o faria, os médicos disseram que ela havia passado por um trauma, e um único psicólogo disse que não conseguiria lidar com a garota, ver os pais morrerem na frente dela, foi um choque e tanto.

Aira, dispersa em um mundo sem vida, respirou fundo, apoiou o braço no vidro do carro e olhou para a paisagem, o coração de Aira se sentia bagunçado, seus pais morreram por estarem levando ela para algum lugar importante, que ela iria ter de ir. Era culpa dela terem morrido.

Seus olhos se afogaram novamente, enquanto soluçava e se encolhia no banco de trás do carro, sua visão embaçada se misturava com a memória recente do carro dos seus pais. O motorista passou por cima de uma lombada de maneira abrupta. Aira visualizou, momentaneamente, o carro dos seus pais voar enquanto ela estava dentro dele, no banco de trás. Sentiu a parte de cima da cabeça doer, e em seguida o som de baque repercutiu em sua cabeça.

A garota, encolhida, no banco de trás tremia de medo e chorava, a cabeça latejava em pura dor, enquanto o som agudo em seu ouvido direito machucava ela.

- M-M-Mã... M-Mã... - Ela não conseguia pronunciar o nome enquanto soluçava, sentindo um aperto forte na garganta. Soltou as pernas e agarrou os cabelos na cabeça. Aira sentia um desespero incontrolável dentro de si, ela começou a bater na cabeça pelos dois lados enquanto tentava se controlar. A dor na cabeça se intensificou enquanto ela não conseguia parar de pensar no acidente.

O medo estava tomando conta do corpo dela. Seus olhos reluziam com um tom violeta nas pupilas. Os Ventos começaram a pesar mais.

De repente, o carro parou, o som de uma porta foi aberta, os passos rápidos, bem de fundo, percorriam os ouvidos da esquerda para a direita, e em seguida a porta ao seu lado se abriu. Aira ouviu tudo isso, mas não conseguia se controlar. Sentiu os pulsos sendo segurados e em seguida a voz de alguém:

- Garota! Garota! Se acalme! Respire! - Disse o motorista, que havia parado no meio da rua, não havia carros passando.

Aira estava soluçando bem forte enquanto o caótico medo preenchia o peito dela, ela olhou para o motorista.

- E-e-e.... e-... - Ela não conseguia formar uma palavra sequer enquanto olhava para o motorista. A dor no peito não se intensificou, mas ela também não diminuiu.

- Garota, fica comigo. Vamos, repita comigo. - Ele segurou as mãos dela e tentou mantê-la segura. Aira não se sentia segura, mas sabia que não devia demonstrar fraqueza, ela tremia demais, comprimiu os lábios enquanto sentia a dor da perda no peito, acenou com a cabeça. - Inspire. - O Motorista inspirou firme.

Aira inspirou em meio aos soluços enquanto tremia.

- Expire. - Soltou devagar.

Em resposta, Aira soltou o ar bem devagar, um pouco mais devagar que o motorista. O corpo foi parando de tremer aos poucos, a dor foi amenizando em poucos segundos, mas ainda estava ali dentro, não tão forte quanto antes, mas como a dor do peito se foi, ela sentiu uma das merdas que havia feito.

Sobre a bochecha dela, havia uma fagulha de sangue escorrendo diretamente da cabeça e da faixa.

- Temos que te levar ao hospital local, fechar a ferida... - Explicou o motorista, ele pareceu irritado, mas estava sendo compreensivo.

Os olhos de Aira oscilaram de volta para a cor ciano claro, e então perderam o tom violeta. O motorista fechou a porta ao lado da garota e foi de volta ao banco do motorista, depois de pôr o cinto, disse:

- Eu vou ligar para a sua tia, irei ver se ela pode buscar você no hospital, garota. - A voz meio cansada, então ligou o carro e voltou a dirigir.

Aira apenas acenou com a cabeça, enquanto apertou a borda faixa, na cabeça, para barrar um pouco do sangue de escorrer, a cabeça doía agora, mas ela sabia que não devia demonstrar fraqueza, aquilo não era o que a família Blake demonstrava, pelo contrário, eles devem mostrar superioridade e não ter fraquezas, ela se encolheu no banco, olhando para frente.

O motorista ligou o rádio do carro e tinha uma música tocando.

"Hoy desperté con ganas de besarte...[...]"

- x -

Aira estava sentada em um banco dentro da sala de espera do hospital, a faixa na cabeça, novamente, nova, branca e sem os resquícios sangrentos do resultado de seus golpes nela. É uma ferida que a garota tem de tomar cuidado, principalmente que os médicos sempre precisam dar sete pontos para manter a ferida, no lado da cabeça, fechada.

Ainda recolhida, Aira, sentia o latejar na cabeça, aquilo doía demais e era difícil não chorar, mas ela se segurava. Ainda assim, sabia que qualquer comentário que fosse fazer, provavelmente cairia no choro, portanto, o silêncio era a resposta que ela dava para todos.

Ela ficou por minutos ali, encolhida, enquanto sua tia, Susan Blake, estava conversando com o médico, disse que não demoraria, mas já fazia mais de trinta minutos que ela estava naquela sala. Aira não prestava atenção, mas a sua tia às vezes brigava com o Médico, mas no final das contas, ela saiu da sala do médico e olhou para a sobrinha, estava meio pensativa com a mão na cintura e então soltou um largo suspiro.

Susan se aproximou da sobrinha, que era menor que ela, e tocou em seu ombro, felizmente, os cabelos de Susan eram os laranjas escuros das mexas de sua mãe, mas só isso, os olhos dela eram negros e as sardas eram tão poucas que não seria perceptível, se não prestassem atenção com cuidado. Os cabelos de Susan eram curtos e dançavam no pescoço da mulher.

- Uhh…- Susan tentou abrir um sorriso, para confortar a garota, mas nem isso ela conseguia, estava, também, abalada pela morte da irmã.

- Olha garota... - Começou a dizer. - Nós vamos superar isso juntas... pela sua mãe. - E então ela abraçou a menor, pelo pescoço, segurando-a de maneira leve contra o peito.

Aira teve seus olhos invadidos pelo caos e desespero da perda. Abraçou firmemente a tia e chorou sobre as roupas dela, pelo menos ali, ela poderia demonstrar fraqueza, com aquela mulher, ela podia, era sua tia.

A tia dela a entendia, estava sofrendo igualmente pela perda.

- Vamos para casa... - Susan, disse, erguendo Aira do banco, no colo e a carregando até o carro que estava a esperando do lado de fora do hospital. O motorista não estava ali com seu carro preto, pelo contrário, eles entraram em um carro lindo e chamativo, vermelho.

- x -

O sol se erguia sobre o horizonte, criando uma massa brilhante de tons azuis e laranjas, uma visão bonita para aqueles que a apreciam.

A janela da casa de Susan tinha sido invadida pela formidável iluminação daquela estrela, iluminando, atravessadamente, a mesa em que Aira estava sentada.

A casa de sua tia não era ruim, pelo contrário, era agradável, viver ali pelo resto da vida pode ser uma boa coisa. É uma casa grande, com dois andares, possui um quintal protegido por cercas de arbusto, e, para a entrada e a saída, há um portãozinho que dá em direção a porta de entrada.

Aira estava com os braços cruzados sobre a mesa, pensativa, havia um prato com ovos e bacon, em sua frente, mas intocados. Uma caneca de café com leite, liberava a pouca fumaça que se formava do calor.

Encolhida sobre a mesa, Aira olhava para o lado, pensando nos pais, já se fazia uma semana desde que eles deixaram esse mundo, e a garota estava com muitas saudades deles.

Do outro lado da mesa, está Susan, a mulher que não ostentava a mesma beleza que a mãe de Aira tinha, e muito menos o mesmo carinho. As duas estão bem cansadas, e a dor em seus corações era mútua.

- Airinda... você deve comer um pouco. - Disse, enquanto segurava a própria caneca, com café preto. - O médico disse que você precisa se alimentar para melhorar. -

A garota continuou olhando para o lado, mas então se virou para a tia, olhou o prato e o puxou para perto. Respirou fundo.

O silêncio tomou conta do local, enquanto Aira começava a comer o café da manhã.

Depois de alguns poucos minutos, Susan resolveu quebrar o gelo:

- Doze anos não é, Aira? -

- Uhum... - Resmungou.

- Então vocês estavam indo para a capital do Reino do Coração... - Concluiu, Susan.

- Sim... - Uma dúvida surgiu no peito de Aira, encobrindo parte da dor que estava sentindo. - Você sabe por que meus pais estavam me levando para lá? -

- Uhh... Eles não te contaram então...? - Perguntou com surpresa na voz.

Em resposta, Aira resmungou, balançando a cabeça que não.

- Então eu vou supor que eles queriam lhe fazer uma surpresa. - Concluiu novamente. - Eles queriam levar você para o Continente Timenspace, ver se você conseguiria entrar em um das três torres de lá. -

- Como assim....? - Aira pareceu confusa.

- Quando crianças completam oito anos, na escola primária, você têm sua Essência revelada, não é? - Levantou a mão, sinalizando com o dedo indicador, um.

Aira acenou com a cabeça que sim.

- Quando crianças completam doze anos, elas estão prontas para serem escolhidas a entrar em uma das doze Torres de Aspecto que estão espalhadas no nosso mundo. Seus pais foram escolhidos, na sua idade, para entrarem em uma das torres. Sua mãe na Torre do Espaço, e seu pai na Torre do Tempo. - Explicou. - Mas para entrar em uma torre precisa ser alguém excepcional... - Pareceu um pouco chateada com isso.

O olhar de Aira pareceu curioso, mas ao mesmo tempo confuso.

- Existem três jeitos de você entrar em uma das Torres. Um, ter uma Essência forte, que foi o caso de seu pai com a Essência Interna da Força Superior, uma Essência de Rank Alto, dois, ser Altamente Compatível com os Aspectos, que foi o caso de sua mãe, que possuía uma compatibilidade quase que perfeita, e.... três, uma Afinidade Incomum com um, ou mais, aspectos. Raramente entram por essa última opção, pois são poucos os casos que possuem uma Afinidade Incomum logo de início. - Ela bebeu um gole do café preto e então voltou a falar:

- Tenha uma dessas três coisas e você terá uma chance de se tornar uma Exploradora da Torre. - Ela segurou a caneca com as duas mãos e olhou para o café. - Ser uma exploradora lhe traz tantos recursos que você talvez nunca sinta os males de uma vida como a das pessoas que moram por aqui. -

O silêncio novamente preencheu o local, Susan claramente estava chateada com algo, mas Aira não se deu ao luxo de perguntar.

- Tia... você conseguiria me levar para o Continente Timenspace? -

- Se eu fosse uma exploradora, talvez eu tivesse recursos para levar você para lá. - Disse com um tom desesperançoso.

Aira, nesse momento, sentia uma desesperança inigualável, sua tia não conseguiria realizar o último desejo dos seus pais, e isso magoava a pequena, que baixou a cabeça e cruzou os braços de novo.

- Mas... se você quer tanto se tornar uma exploradora... - Susan criou esperanças, na pequena. - Eu posso tentar levar você para a Capital dos Ventos e ver se você consegue uma das nove vagas para entrar na Torre dos Ventos. -

A pequena olhou a tia e pareceu realmente feliz, não seria bem no Continente onde os pais queriam, mas ela iria se tornar o mesmo que eles, e realizar um de seus desejos antes da morte deles.

- Obrigada, tia... - Disse, parecendo realmente contente com isso.

- Se a minha irmã queria que a filha dela fosse uma Exploradora... - Deu um leve sorriso. - Agora, come, tenho que te matricular na escola local... -

Susan ia se levantando para pôr a caneca na pia, e então lembrou de algo, tirou um celular do bolso e disse:

- O Motorista disse que esse celular é seu. - Susan jogou o celular para a Aira, que pegou no meio do ar. - A senha da Internet é 1234567890, o Wi-Fi é 'Sai Fora 1' -

E então foi andando para o corredor, saindo da cozinha.

- Vai se arrumar, Aira. - Disse, por último.


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