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Chapter 2: Capítulo 02

Talini olhou para o teto por onde tinha caído, para o feixe de luz alaranjada, das chamas que consumiam a cidade, que entrava pelo buraco que a Aracne tinha criado na parede para entrar.

Não conseguia acreditar, a queda era de pelo menos vinte metros, e não apenas tinha sobrevivido, como estava praticamente ilesa, não fosse alguns hematomas em suas costas, e os cortes  nas palmas das mão.

Talini se levantou, bateu a poeira que tinha se prendido ao corpo, e aos curtos cabelos dourados, olhou ao redor, tentando descobrir onde estava.

Tinha explorado cada centímetro dos túneis embaixo da casa da guarda, cada uma centenas de celas que tinham sido esvaziadas quando os elfos deixaram a cidade, mas não conseguia reconhecer aquela.

A cela era muito maior do que todas as outras nas catacumbas, construída inteiramente de pedra cinzenta, com as paredes arredondadas, como se fosse um imenso cilindro, não havia nenhuma janela ou porta aparente.

O facho de luz se intensificou, iluminando o centro da cela, e revelando seu habitante.

Um único homem, mergulhado ate a cintura em uma piscina de Agua azul cristalina, com cabelos negros tão compridos que se embaraçavam com sua imensa barba, combrindo completamente seu corpo, flutuando para todos os lados sobre a agua.

A única parte que não estava coberta por cabelo eram os braços presos a corrente ligadas ao teto, e os olhos dourados brilhantes como chamas que tinham tomado forma, com pupilas negras em formato de fendas.

    A barba se abriu, revelando dentes surpreendentemente brancos.

    "Finalmente, você chegou."O homem falou com a voz rouca, e frágil, como se não tivesse a usado por muito tempo, mas Talini sentiu os ecos da força que um dia tivera."Eu esperei por você pelos últimos duzentos anos."

    "Como você pode estar me esperando?" Perguntou confusa, dando um passo em sua direção."Eu não estava viva a duzentos anos."

    "Não estou falando com você." O homem falou indiferente, sem se mexer um único milímetro."Estou falando com ela."

Talini acompanhou o olhar do homem até um ponto muito acima dela, Seu corpo travou. sua respiração se acelerou, ficou tão feliz em sobreviver a queda, que tinha esquecido completamente que não tinha caído sozinha.

    Ela se virou lentamente, tentando ao máximo não fazer nenhum movimento brusco, com medo de espantar a criatura de pesadelos que sabia estar a poucos metros dela, mas a Aracne não estava atrás dela.

    A criatura estava encolhida contra uma das paredes da cela, suas patas curvadas sobre a parte humana de seu corpo, tentando ao máximo se proteger, enquanto tremia de terror, a pele branca como osso ainda mais pálida,  seus seis olhos estavam focados no homem acorrentado, repletos de um medo que Talini nunca tinha imaginado ser possível.

    "Não precisa ter medo, minha querida, não vou lhe fazer mal." A gentileza e a segurança na voz do homem eram genuínas, e pareciam estar funcionando com a Aracne, não fosse o fato dele ser completamente louco, Talini teria se deixado relaxar também."Se aproxime, por favor, apesar do cheiro, tenho certeza que o meu gosto é muito bom, algo que nunca experimentou na vida."

    "O que infernos você está fazendo?"Talini queria gritar, mas falou baixinho, não tinha coragem o suficiente, a Aracne podia estar controlada, assustada demais para se aproximar, mas como todo animal encurralado, poderia atacar a qualquer momento." Ela está aqui para nos matar!"

    "Exatamente!" O homem disse com um enorme sorriso no rosto, sua voz tomada por um profundo prazer,, seus olhos dourados estavam acessos com um brilho insano que era reservado apenas para os devotos mais fervorosos."Não é uma Maravilha? Finalmente… Finalmente... depois de tanto tempo… de tanta dor… meu sofrimento vai acabar."Por apenas um segundo, os olhos dourados do homem se desviaram da forma prostrada da Aracne, e se focaram totalmente em Talini, que sentiu sua respiração a abandonar."Eu sinto muito por você, Moça, mas estou pronto para o meu fim desde o dia que os malditos Elfos…"A voz dele endureceu, se tornando algo semelhante ao rosnado de uma fera, ecoando pelas parede de pedra como o estouro de um trovão, repleta de um ódio tão profundo, tão intenso que seria capaz de destruir o mundo."Me deixaram nesse buraco para apodrecer."

    Talini olhou novamente para a Aracne, que gritava aterrorizada, enquanto tentava desesperadamente se fundir com a parede.

    O homem olhou para cima, e seu rosto fez o impossível, seu sorriso aumentou ainda mais, lágrimas se formaram nos cantos de seus olhos.

    Talini acompanhou o olhar dele, sabendo exatamente o que iria encontrar.

    Atraídas pelos gritos de desespero de sua irmã, as outras Aracnes que estavam atacando a cidade se reuniram, suas cabeças horrendas apareceram na borda do buraco, mesmo a distância, Talini conseguia ver a curiosidade, e o medo que brilhavam naqueles olhos negros.

    Qualquer que fosse o efeito que o homem tivesse sobre a primeira Aracne, não parecia se estender até as outras,  jatos de teia branca e pegajosa foram disparadas contra o teto, e uma a uma, as criaturas se penduraram pelo buraco, descendo lentamente em direção a sua irmã. 

    **********

    Veles não acreditava que ainda era capaz de chorar, mas ao ver dezenas de Aracnes iluminadas pela luz alaranjada que vinha do lado de fora, penduradas em suas teias prateadas, tão divinas quanto o anjos que apareciam em algumas pinturas dos humanos, descendo em sua direção, lágrimas de felicidade escorreram por seu rosto.

    Sabia que o pouco de temperamento que revelará, foi o suficiente para aterrorizar a pobre criatura, podia esperar pelos próximos duzentos anos, e ela nunca se aproximaria o suficiente para acabar com seu sofrimento, e apesar de saber que sua memória não era exatamente confiável, alguma parte obscura de sua mente, lhe dizia que, talvez, uma bando de Aracnes fosse corajoso o suficiente para atacá-lo.

A mulher de cabelos dourados também percebeu  que o fim se aproximava, cada centímetro que as Aracnes desciam, era um passo que dava para perto dele.

Veles sentiu pena da jovem, morte nas garras de uma Aracne era um dos piores jeitos de partir, o veneno que  produzem em suas pinças,  e capaz de paralisar suas vítimas e  desacelerar  sua percepção de tempo, transformando um segundo em uma hora, estendendo o sofrimento de suas presas muito além da morte de seu corpo.

A mulher chegou na beirada da piscina, seu calcanhar flutuando a alguns centímetros da água.

"Droga, Droga, Droga…" A mulher murmurava baixinho,  mas Veles conseguia ouvi-la, ela olhava para todos os lados, procurando por alguma forma de escapar."Por onde os elfos te trouxeram? Tem que ter uma passagem,  algum caminho conectado à superfície."

As Aracnes tocaram o chão da cela, e se espalharam ao redor da irmã aterrorizada, tentando protegê-la do olhar de Veles.

"A única passagem que tinha para esse lugar, foi selada a muito tempo, os maldito orelhas pontudas a destruiram na ultima vez que apareceram aqui."Veles se sentiu mau ao ver toda a esperança deixar a jovem, seus ombros magros se encolheram derrotados, sua cabeça baixa."Se você quiser sobreviver, fique escondida atrás de mim, enquanto as Aracnes devoram o meu corpo, tente subir por uma das teias."

"Obrigada por oferecer, mas vi uma dessas criaturas, devorar o corpo de um homem adulto em questão de segundos."Apesar do sarcasmo, havia uma ponta genuína de gratidão na voz da mulher."Elas estariam em cima de mim, antes de eu dar dois passos em direção a teia."

"Sinto muito, Moça." Veles sentiu a verdade em suas palavras, e se surpreendeu, estava triste o suficiente com a situação da jovem, que sua felicidade com o fim iminente de seu sofrimento tinha diminuído.

As Aracnes finalmente conseguiram acalmar sua irmã aterrorizada, e avançavam lentamente em direção a eles,  enfrentando seu medo a cada passo. 

 A mulher recuou ainda mais, entrando na piscina, e se aproximando cada vez mais de Veles.

Ela olhou para trás, para os grilhões presos aos pulsos dele, que apesar das gravuras prateadas em alto relevo, não pareciam muito diferente de um par de algemas normais.

"Se eu conseguir te soltar, você consegue nos tirar daqui?"

"Facilmente."Veles respondeu indiferente."Infelizmente, para abrir essas algemas, você precisaria ter o mesmo poder que um Lorde Élfico, e se tivesse esse tipo de poder, não estaria aqui embaixo, tremendo de medo, cercado por um bando de Aracnes."

 "Deixe que eu me preocupo com isso, temos um acordo?"A mulher perguntou, parte confiante, parte aterrorizada.

Veles  encarou aqueles olhos verdes, procurando por uma mentira criada pelo desespero, mas apesar do medo, havia também sinceridade, ela poderia até não ser capaz de libertá-lo, mas acreditava que conseguiria.

E esse pequeno vislumbre de liberdade, despertou algo terrível em seu peito, algo que acreditava ter morrido nos primeiros cinquenta anos de seu confinamento, esperança.

"Qual o seu nome, Garota?"

"Talini…"

"Muito bem Talini dos humanos, por meu nome, Veles Azvameth, eu juro tirá-la deste lugar, e levá-la aonde seu coração desejar."


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