"Minha senhora, o café da manhã está aqui."
Alessandra mexeu-se na cama ao ouvir a voz de alguém do lado de fora do quarto e as três batidas que se seguiram. "Como é possível que já seja manhã? Eu estava apenas jantando", resmungou, esticando o corpo ao acordar.
Alessandra encarou o teto quando abriu os olhos. Hoje era o dia em que sua vida poderia mudar.
"Minha senhora?"
"Kate está aqui", Alessandra percebeu.
Normalmente, a pessoa que lhe trazia a comida apenas batia na porta e saía rapidamente com medo. Esta pessoa estava praticamente implorando para que ela viesse até a porta, o que significava que havia alguém lá fora esperando impacientemente.
A curiosidade de Kate sobre o que Alessandra conversou com o duque deve ter incomodado-a a noite toda.
Alessandra ficou tentada a fazer a pessoa esperar mais até que finalmente buscasse o café da manhã, mas hoje não era o dia certo para deixar Kate irritada. Ela precisava desempenhar um papel para poder sair.
"Estou indo", ela gritou para avisá-los de que os tinha ouvido.
Quando Alessandra se sentou, pegou o gatinho que dormia em um travesseiro ao seu lado e o tirou da cama para colocá-lo em seu armário para se esconder. Fechou a porta do armário e depois foi até sua mesa para colocar a máscara que usara na noite anterior.
"M-Minha senhora?"
'Tente dar menos na cara que está sob pressão', Alessandra pensou ao ouvir a empregada gaguejar.
Com a máscara amarrada, Alessandra aproximou-se da porta e a destrancou.
"S-Seu café da manhã", disse a empregada com a cabeça baixa.
Alessandra olhou para seu café da manhã, que não estava nas mãos da empregada, mas sim no chão. "Obrigada", ela se abaixou para pegar, mas enquanto suas mãos se aproximavam do chão, um sapato apareceu à esquerda e prendeu sua mão esquerda.
"Bom dia, irmã", Kate apareceu de surpresa, como Alessandra havia previsto.
Alessandra estremeceu de dor com os sapatos de Kate em suas juntas. "Bom dia, irmã."
"Vá em frente", Kate ordenou à empregada. Estava muito irritada por ter que esperar tanto tempo do lado de fora do quarto de Alessandra. Se ao menos ela tivesse a chave reserva que seu pai tirou. "Se divertiu ontem à noite, Alessandra?"
"Sim."
"Sim?" Kate ficou furiosa com a ousadia de Alessandra. "Só porque você encontrou o duque, acha que se divertiu?"
"N-Não é isso", gaguejou Alessandra. "Eu me diverti no meu quarto ontem à noite. A música chegou até o meu quarto."
"É mesmo? Me diga, sobre o que você falou com o duque ontem à noite?" Kate precisava confirmar com seus próprios ouvidos que nada sério aconteceu entre o duque e Alessandra. Seria constrangedor se ele se interessasse mais pela coisa na frente dela.
"Eu não percebi que ele estava parado ali quando fui buscar meu jantar. Ele chamou meu nome porque eu esqueci de me dirigir a alguém tão importante quanto o duque. Ele me repreendeu e depois você chegou. Foi só isso."
Kate pressionou seu sapato contra o dorso da mão de Alessandra com mais força, não acreditando totalmente na história. "O que mais?"
"Ele falou sobre casamento e você como opção. Nada mais. Eu juro", Alessandra gritou de dor.
"Hmm", Kate tirou o pé. Fazia mais sentido que Edgar falasse sobre ela, mas por que ele estava se fazendo tão difícil na noite passada quando os dois voltaram para a festa? "Claro, ele falaria de mim. Quem gostaria de falar com uma aberração dessas."
'Isso não faz sentido. O duque ainda falou comigo', Alessandra revirou os olhos. Devido ao seu olhar para baixo, Kate não conseguia ver sua expressão facial.
"Mesmo assim, me irrita que você tenha mostrado seu rosto nojento ao duque. E se ele achar que está amaldiçoado e vier descontar sua raiva em nós? O que você fará então, sua aberração? Acha que estará segura, que pai vai te proteger?" Kate empurrou seu sapato contra a mão de Alessandra novamente.
"N-Não", gemeu Alessandra.
"Então fique no seu quarto o-"
"Kate!" Desmond exclamou ao ver sua filha mais nova machucando a mais velha. "Pare com isso agora."
"Mas pai, ela..." Kate parou de falar percebendo que não adiantava negar o que ele viu claramente. "O duque viu ela ontem à noite e eles conversaram."
Desmond olhou para Alessandra surpreso ao saber que ela foi vista pelo duque. Sobre o que os dois falaram? Por que o duque não mencionou nada? "Eu cuidarei disso, então vá embora."
Kate bateu os pés no chão como uma criança que não teve o que queria. Se a empregada tivesse conseguido fazer Alessandra abrir a porta mais rápido, ela teria ido embora antes do pai aparecer. "Que chato", ela saiu da porta do quarto de Alessandra.
A mão de Alessandra tremeu de dor, mas ela se sentiu aliviada com a saída de Kate, por enquanto. Mesmo com a dor na mão, Alessandra pegou a bandeja de comida para levar de volta ao quarto.
"Alessandra, querida", o barão se aproximou de sua filha silenciosa. "Você pode me dizer o que aconteceu entre você e o duque ontem à noite? Por que estava fora do quarto? Você sabe que havia uma festa."
"Não trouxeram comida ontem à noite e eu estava com fome. O jardim está proibido, então pensei que poderia passar rapidamente. Só isso", disse Alessandra.
Desmond entendeu, mas ainda assim, era o duque. Muitas pessoas acreditavam no rumor de que ela amaldiçoava alguém e o fazia morrer apenas por causa de uma coincidência. "Sobre o que vocês falaram?"
Alessandra manteve a cabeça baixa e disse: "Ele só queria ter certeza de que poderia fumar ali e falou de Kate como uma candidata a casamento."
"Sério?"Os olhos de Desmond se iluminaram. Ele estava preocupado que Kate não tivesse seduzido o duque na noite passada, mas agora parecia que ela causou algum efeito em Edgar, afinal. "Esse homem é tão estranho que provavelmente quer observá-la um pouco mais. Isso é bom."
Edgar era alguém de quem Desmond precisava para ajudá-lo a sair das dívidas que ele mesmo criou. Não era fácil viver tão grandiosamente com suas finanças diminuindo ao longo dos anos. Kate encontrar um marido rico era a única esperança.
"Ainda assim, você não deveria ter saído. E se eu mudasse de ideia e levasse algumas pessoas para lá?"
'Então eu deveria morrer de fome?' pensou Alessandra.
"M-Me desculpe, pai", ela respondeu.
"Tudo bem, tudo bem. Não adianta repreendê-la. A culpa é de quem não trouxe sua comida. Eu sinto muito pelo que Kate fez, mas ela está apenas cuidando de nós. Edgar é alguém que pode nos arruinar facilmente", disse Desmond.
Ele estava preocupado, mas como Edgar não mencionou nada, significava que Alessandra não o ofendeu. "Você deve estar entediada no seu quarto o tempo todo. O que você gostaria de fazer para passar o tempo? Diga qualquer coisa e eu providencio imediatamente."
"Já que perguntou, acabei com as coisas para pintar. Eu quero pintar a cidade. Posso andar na carruagem para ver lugares para pintar? Eu-Eu não vou sair. Eu prometo."
Desmond colocou a mão no quadril, pois não era algo que Katrina concordaria. No entanto, se mantivessem Alessandra trancada, ela tentaria sair do quarto mais vezes. Era melhor dar-lhe um pouco de liberdade. Depois do que Kate acabara de fazer, ele tinha que fazer algo para compensar. "Prometa-me que não sairá da carruagem."
"Eu prometo", Alessandra sorriu. Seu pai não conseguiu ver isso porque ela ainda abaixava a cabeça.