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Chapter 2: Conversa fiada

Lá se vai minha vida de fingir ser um cara normal na cidade, olho pra pirralha ruiva que levo nos ombros. E me pergunto se o que eu tô fazendo pode ser considerado sequestro? Tanto faz.

Acho essa uma boa hora prá voltar a ativa, tão boa quanto qualquer outra.

Mas eu sei do que eu vou precisar pra esconder a pirralha, até estudar as técnicas que me deram.

Uma palavra, conexões, as quais administrei mal e porcamente nas últimas décadas.

Felizmente tem um lugar em que o chefe deve muito mais a mim do que o contrário, Torre de Observação de Estrelas. Eu salvei a vida do chefe lá e ainda ajudei a fundar o lugar.

Depois de três horas correndo e saltando montanhas a velocidades subsônicas, eu queria ir até velocidades transônicas mas tenho que ter cuidado pra não ferir a garota, começo a desacelerar a quilômetros de uma cidade de proporções medianas.

Paro ainda na estrada mais próxima afinal entrar com a garota inconsciente nos meus ombros e pedir problemas com algum enxerido, e com o máximo cuidado possível para mim posiciono a garota no chão, esta que era cercada por um campo verdejante de plantas rasas como grama e arbustos melhor colchão não há.

Sento no chão há mais ou menos um metro e meio dela, e começo a meditar, sincronizar minha mente e respiração com o poder que desejo usar no momento: plantas.

Depois de alguns segundos me deito na grama, minha respiração acompanha o ritmo das correntes de vento e meu corpo em sincronia com a grama, fecho meus olhos, e sinto tudo o que a flora em um raio de 500 metros está sentindo.

Minha mente logo forma uma imagem com informação do meu sentido extra das estradas, animais e pessoas em contato com qualquer tipo de vida vegetal na área infelizmente a cidade não está no alcance no momento.

"Hmm"

Parece que a garota está acordando, ótimo assim posso entrar na cidade sem muitas perguntas, dormir na grama não tem problema mas não ter uma boa bebida para apreciar mesmo uma não alcoólica é tortura.

"Onde estamos?" Ela pergunta assim que acorda "Onde está o Yanan?" Outra pergunta na sequência mas logo ela se cala, a realidade do que aconteceu deve ter atingido ela por agora.

Acho que vou esperar ela se acalmar antes de perguntar sobre as técnicas...

Três minutos já deve ter se acalmado, não? Que seja.

"Agora, não tem um bom jeito de dizer isso, mas além da vida de fugitiva que você já parecia levar, agora a maioria dos seus aliados estão tão isolados quanto você ou bateram as botas."

Ouvindo isso a garota me encara por alguns momentos, com raiva provavelmente.

"Você podia ter acabado com os nossos oponentes lá não podia?"

Então era nisso que ela estava pensando, sim mas não no estado em que estou.

"Não todos, novata."

Se não fosse as técnicas, e eu finalmente ter achado uma pista sobre como eu vim parar aqui eu ia ignorar você também.

"Novata, como assim?"

"Já esqueceu do acordo minha mais nova assistente? Se levanta você passou as últimas horas dormindo enquanto eu te carregava mas até cidade você vai andar, vamos ficar no máximo duas noites nas cidades em que passarmos até chegar na Torre de Observaçãode Estrelas."

Faz tempo que eu não vejo o olha Estrelas, espero que ele tenha aumentado a coleção dele já que ele é um dos poucos me ajudando com minhas 'pesquisas'.

"Quanto tempo pra gente chegar até essa torre?"

Era nisso que ela estava pensando? falando em tempo acho que quando chegarmos ele vai estar se preparando pra chamar a próxima tribulação.

Me pergunto até que tribulação a pirralha sobreviveria, primeira? Quase garantido. A terceira provavelmente é quando ela vai ter seus limites testados.

"Dez dias mais ou menos, isso se a viagem for sem imprevistos, óbvio." Olho a garota, ela parece não ter nenhuma reação apesar de perguntar o tempo da viagem, acho que ela só queria algo pra ocupar mente por enquanto.

"Se você já colocou seus pensamentos em ordem, vamos."

A garota acenou a cabeça em concordância, e começamos a andar, em velocidades humanamente possíveis, até a cidade. Infelizmente por causa da distância em que eu havia parado previamente esse tipo de velocidade quer dizer que vai levar um tempo até chegarmos.

Normalmente eu não teria problemas em ignorar minhas companhias, dessa vez ela supostamente vai ter que trabalhar prá mim, por causa de uma situação bagunçada o mínimo que eu posso fazer é interagir com ela como se fosse uma pessoa.

"Sobre a tal ordem, eu já ouvi falar dos clãs que fazem parte, mas nem mesmo rumores sobre a ordem, como conseguiram isso?"

Perguntei, ato que de nenhuma forma foi influenciado por desconforto com a situação.

"Considerando sua força você deve saber sobre os onze mundos e o reino divino correto?" A garota me pergunta com desconforto claro em seu rosto, eu sabia que não era o único! Não, eu não estava desconfortável com o silencio, jamais.

Sobre os mundos são trinta e três na verdade, mas os outros vinte e dois são estranhos no seu melhor e armadilhas supermassivas no seu pior, e as barreiras deixam de agir apenas como muralhas mas adicionam um filtro que parece buscar condições especificas para permitir a passagem.

"Sim, as onze galaxias separadas por algum tipo de barreira que deforma o espaço e o tempo, e o mundo em que seres que se fundiram com as leis naturais do mundo, deidades, residem." Respondi com os fatos mais difundidos sobre o assunto.

Fundir com as leis e se tornar um deus sobre tal fração da criação, a parte que me intriga sempre foi a fusão me lembra de como algumas bestas se tornam mais fortes, me pegunto se a semelhança é o porque algumas são ditas serem 'divinas'.

"Está explicando o óbvio pra quem?" Mingten, a pirralha pergunta.

"Só conferindo, se estamos falando do mesmo assunto." Respondo sem mostrar, a insistente, irritação em minha face.

"Okay." Ela responde com certa desconfiança "Você sabe que o Reino Divino está destruído, ou quer conferir com alguma informação privilegiada sua?" Ela tem boa intuição ou só está ressentida por causa da conversa anterior?

"Não, é exatamente o que eu lembro o Reino Divino está fragmentado e espalhado."

Dou a resposta sem atraso.

"Exato, fragmentado, e é nesses fragmentos que as nossas bases ficam, enquanto os clãs foram criados para termos contato com o exterior."

Se esconder em fragmentos do Reino Divino, não é novidade, mas fazer cinco clãs de fachada é um movimento ousado que parece ter funcionado, até agora.

Os fragmentos geram sua própria dimensão de bolso, e só é possível entrar nelas com a chave ou por força pura, o último é improvável então isso me dá a resposta para como a ordem está nesse estado: traição.

Repugnante.

"A escolha desses clãs não foi sem razão eu imagino, então porque esses cinco?"

Pergunto dessa vez pra distrair a mim mesmo, traição, essa palavras trás memórias, memórias demais.

"A decisão é bem antiga, então eu só sei o que foi dito pra mim como a razão. Antes da descoberta dos onze mundos as forças da humanidade estavam divididas entre as alianças ocidentail e oriental, Braighte e Feldar eram famílias medianas da aliança ocidental e na época nossos melhores contatos dentro da mesma após um tempo eles foram assimilados a Ordem, já dos outros três clãs Wang e Meng realizaram a mesma função na aliança oriental, por último o clã Su foi formado originalmente por parentes de sangue e aprendizes do fundador." 

"Nesse caso não seriam os Su a família principal, e as outras quatro apenas ramos com funções específicas? Além disso acha que está dando lição de história pra quem?" Perguntei.

"Desculpe-me, mas eu não tinha certeza se o Grande Kaz tinha conhecimento sobre assuntos trivias como a história do mundo." Dizendo uma das desculpas mais falsas, e eu já ouvi muitas, e sarcásticas que já presenciei ela respondeu.

Ela perdeu o medo ou esse é jeito dela lidar com a perda do confidente?

"Este 'grande' Kaz, tem um grande interesse na história do mundo, doz onze, e além." Respondi com a mesma doze des sarcasmo. "Agora, quer responder a pergunta de antes?"

"Okay, eu respondo" levantando as mãos em sinal de rendição Mingten respondeu "Enquanto os Su estavam sim em uma posição privilegiada dentro da Ordem, eles não eram a família principal ou núcleo como a chamamos dentro da Ordem." Ela parou brevemente de falar "Os membros do núcleo foram adotados das outras cinco famílias escolhidos por habilidade pura em diferentes campos, e para seus descendentes, as vezes referidos simplesmente como linhagem, a estadia no núcleo é garantida por três gerações, se após três gerações não surgir ninguém com um nível de habilidade igual ou maior do selecionado original, um novo membro é adotado das cinco famílias e passa a ser o herdeiro da linhagem."

Que sistema interessante, provavelmente só conseguiram fazer isso funcionar no começo por causa do carisma e força desse suposto fundador.

Finalmente chegamos perto o suficiente dos muros da cidade para ouvir o barulho das pessoas falando e se movimentando, e sem combinar verbalmente e a garota passamos a falar sobre assuntos mais comuns até chegarmos ao portão, os guardas pediram algumas moedas de cobre para nos deixar entrar, eu coloquei algumas a mais pra eles não perguntarem muito, e os guardas claramente aceitaram. Não sei se ele tem que repassar os subornos para alguém, mas se tiver existe uma chance que tentem nos investigar e honestamente não estou com paciência para lidar com bandidos de rua e oficiais corruptos, se bisbilhotarem demais vou simplesmente sumir com eles, eu tenho bastante experiência em fazer curiosos inconvenientes sumirem em silêncio.

Pedimos algumas direções e logo paramos em uma pousada descente e cada um foi para o seu quarto.

No quarto, simples mas claramente bem cuidado, me sento na cama e tiro a moeda que Yanan me deu de um bolso em meu colete.

A moeda é grande demais pra usar como dinheiro, em um dos lados a um bagua, os oito trigramas, desenhados em alto relevo do outro lado um olho com duas pupilas, ambos símbolos relacionados com a sorte, hmm? Apesar do bagua ser mais relacionado com o mandato celestial e o feng shui ainda se trata de alguma forma de sorte... eu acho.

Apesar de ter mexido um pouco com adivinhação o fato é que nunca foi meu forte. O que eu sou bom é em explorar os básicos do Synchro e extrapolar seus usos, isso é meu forte, e um talento decente na forja. Mas claramente a moeda não usa os princípios de sincronia, recriação e amplificação que Synchro usa normalmente.

Nos onze mundos de hoje não há muitos poderes que não usem Synchro como base, mas no auge do Reino Divino os poderes se originavam do ato de fusão com algo simbólico, considerando quem me deu essa moeda ser um resquício dos poderes que as chamadas deidades usavam é bem provável, mas tem uma razão pela qual Synchro é o poder que permanece no mundo de hoje: adaptabilidade.

Tiro cinco moedas normais do meu bolso e elas passam a flutuar e girar na palma da minha mão esquerda, eu acalmo minha mente, e sinto o calor do meu corpo, seria mais rápido se eu tivesse fogo mas vou usar o princípio de amplificação com meu próprio corpo na ausência de chamas.

Do meu corpo sinto cada mineral que compartilha os compostos das moedas em minhas mãos, e faço que ambos os grupos vibrem no mesmo ritmo, enquanto o calor em meu corpo aumenta e é espelhado nas cinco moedas.

As moedas logo viram metais liquefeitos, mudo a sincronização do meu corpo para moeda do 'caminho de dez moedas' e a pasta de metal que flutuava em minha mão aos poucos se torna uma cópia da moeda da sorte de Yanan, infelizmente não consegui recriar completamente os poderes que estavam dentro da moeda, mas é o suficiente para eu praticar o 'Caminho de Dez Moedas'.


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