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Chapter 1: 1 – o folheto.

  Eram 7:11 da manhã de uma segunda-feira, dia impregnado com uma aura de desgosto para Lisa. O domingo sempre parecia deslizar suavemente por entre os dedos do tempo, era uma tranquilidade que em questão de horas se transformava numa temida semana repleta de desafios, começando precisamente pela aula de física das 7:30. Para Lisa, essa disciplina se tornara uma provação, um verdadeiro teste de resistência para sua paciência e interesse.

  Especificamente naquela segunda, as coisas pareciam ainda mais sombrias. Além do típico tormento relacionado a tópicos como ondulatória e as Leis de Kirchhoff, a ruiva se viu enfrentando um desafio adicional. Ela estava atrasada, mais uma vez, consecutivamente, isso indicava a aproximação de problemas. A sensação de desânimo pairava sobre ela como uma névoa densa, envolvendo sua mente enquanto ela imaginava os árduos cálculos de resistores e associação mista, estes eram como enigmas intrincados que ameaçavam consumir ao máximo sua energia e vida. Ainda assim, sabia que não podia se permitir ceder à tentação de desistir já que a semana estava apenas começando.

  Em um estado de desespero palpável, Lisa se viu forçada a percorrer as ruas da cidade em sua bicicleta, com uma melodia de bandinha gaúcha emanando de seu telefone como um sopro de incentivo, pelo menos ela tinha a mínima sorte de morar perto da sua escola, com certeza o atraso seria minimizado já que estava isenta das longas esperas por ônibus e das enrascadas do tráfego caótico que assolava o distrito de Gangnam naquele horário. 

  A bicicleta vermelha que a servia como meio de locomoção não era um modelo de excelência, mas sim uma máquina desajeitada que, apesar de suas imperfeições, cumpria a missão de levá-la ao seu destino. No trajeto, Lisa foi obrigada a reengatar a correia da bicicleta, no mínimo, três vezes, testemunhando a fragilidade de sua montaria. A correia, já enferrujada pelo uso incansável, demonstrava sinais de desgaste, exigindo sua atenção constante. Adicionalmente, as pastilhas de freio, em um estado lastimável de deterioração, emitiam um estridente lamento sempre que Lisa acionava os freios, transformando sua bicicleta em um instrumento que anunciava sua chegada com uma cacofonia semelhante ao trágico destino das gazelas na savana. Porém, apesar desses percalços mecânicos, a bicicleta perseverava em sua função de transportar Lisa ao seu destino.

  A pressa e o desespero não permitiram que ela desfrutasse de um café da manhã, o que não era um ritual usual, mas nessa fatídica segunda-feira, ela gostaria de ter se atrasado. No entanto, em sua determinação incansável, conseguiu chegar à escola dentro do prazo estipulado. Assim que estacionou seu monstruoso meio de transporte como de costume, deu continuidade à corrida contra o tempo, desta vez com os próprios pés, ansiosa para alcançar sua aula de física e enfrentar as dificuldades que a aguardavam.

  Já era um desafio lidar com uma aula de física logo no primeiro horário da manhã, mas para Lisa, a situação tornava-se ainda mais intimidadora pela possibilidade de ser chamada a atenção diante de toda a classe, já que corria risco de se atrasar. Continuou sua jornada, passando pelo segurança que guardava as portas da escola, atravessando os corredores labirínticos, passando pelos banheiros e professores antes de enfrentar o próximo obstáculo: subir quatro lances de escada íngreme. E ainda assim, a distância parecia como a posição de uma estrela distante no cosmos.

  Ela sentia-se como uma partícula em movimento em meio à vastidão do Instituto Internacional de Gangnam, este situado em um próspero distrito sul-coreano da capital, era um verdadeiro poço de diversidade cultural. Parecia que a escola irradiava a riqueza da multiplicidade de origens e experiências de seus estudantes. A instituição de ensino estava constantemente cercada por estudantes intercambistas, que traziam consigo uma mistura de línguas, tradições e perspectivas, contribuindo para a experiência de aprendizado enriquecedora que a escola oferecia. Muitos dos estudantes locais eram frequentemente convidados a participar dessas relações interculturais, que eram consideradas extremamente benéficas para a reputação das autoridades educacionais locais e promoviam um ambiente de aprendizado verdadeiramente global. 

  Motivada pelo pensamento de não precisar pedir desculpas pelo atraso, ela acelerou.

  [...]

  Lisa estava a poucos passos da porta da sala 312 quando, para sua (in)felicidade, sua atenção foi capturada por um inoportuno papel que repousava negligenciado no reluzente chão do Instituto Internacional de Gangnam. A princípio, ela não havia percebido-o, mas, ao sentir a sola de seu sapato entrar em contato com aquela intrusa folha, o famoso cu fechado a assaltou. O papel parecia uma afronta ao ambiente cuidadosamente mantido da escola. 

  Ali, estirada no piso frio, em momento de frustração aguda, Lisa amaldiçoou - em silêncio, - uma série de indivíduos. Amaldiçoou quem havia parido o fodido que plantou a árvore que fez o papel responsável por sua queda indesejada. Amaldiçoou quem pariu o indivíduo que resolveu utilizar aquele papel, como se a produção daquele documento fosse um ato de perversidade deliberada destinado a interromper sua jornada. E, mais intensamente do que tudo, Lisa amaldiçoou, com um fervor quase incontrolável, o indivíduo insensível e desrespeitoso que, de forma desavergonhada e irresponsável, jogara aquela merda fodida no chão.

  Ainda na luta, suas expressões faciais e movimentos corporais denunciavam sua frustração. Ela não podia continuar no chão, então, meio que obrigada a parar de pé, ela se viu enfrentando uma escolha: continuar a praguejar o papel inoportuno ou tomar a atitude mais prática de simplesmente pegá-lo do caminho e prosseguir em seu caminho. Lisa juntou aquela porcaria e continuou o seu percurso, felizmente a tempo.

  [...]

  No segundo período, Lisa se encontrava diante da aula de geografia, uma das matérias que ocupava um lugar especial em seu coração. O tema do dia, cultura latina, era particularmente cativante para a ruiva. Esse amor profundo e duradouro pela cultura latina havia sido cultivado e nutrido ao longo dos anos, graças à influência de sua família. Seu pai, um operador de máquinas, era um aventureiro de espírito livre que, a trabalho, foi a inúmeras viagens pela América Latina. A cada retorno dessas jornadas, ele trazia consigo uma rica coleção de adereços exóticos, trajes típicos e, o mais importante, histórias vívidas e empolgantes sobre os diversos lugares que visitou.

  As narrativas de seu pai, repletas de descrições coloridas e experiências autênticas, pintavam um quadro da América Latina que cativava Lisa desde sua infância. Ela se encantava com as histórias sobre a calorosa hospitalidade, a receptividade e o calor das pessoas que seu pai encontrava em suas viagens. Lisa amava aquilo, os americanos pareciam tão acolhedores como abraço de mãe depois do choro. Então, motivada pelas histórias de seu pai, ela sempre teve vontade de conhecer o local. 

  Entretanto, naquele momento, ela parecia distante e desinteressada pelos tópicos em discussão. Enquanto o professor explorava detalhes sobre o programa "Mais Médicos", que havia sido reinstaurado pelo então presidente brasileiro, Lula, ou sobre as inúmeras problemáticas relacionadas às políticas de imigração nos Estados Unidos e o alarmante número de mexicanos detidos, Lisa se encontrava com a mente vagando no vazio de sua cabeça.

  Claro que memórias das histórias de seu pai ainda eram uma fonte de fascinação e apreço, mas naquele momento, sua mente não estava interessada. Talvez estivesse exausta por ter acordado tarde ou por todo o processamento cerebral consumido no período anterior mas, uma coisa era fato, Lisa nem se importava mais com a queda, a dor havia sido momentânea apenas, pois alí, sentada deprimidamente, ela sequer lembrava, afinal, não havia se atrasado.

  Foi praticamente expulsa de seu transe no momento em que Jennie, sua melhor amiga de longa data, estendeu-lhe um bilhete, algo rotineiro durante as aulas. Quanto ao conteúdo: raramente tinha grande significado ou profundidade, eram sempre, em sua maioria, conversas fúteis, nas quais ambas se entregavam ao prazer momentâneo de debater sobre a vida alheia em cantos de folhas de caderno rasgadas.

  Aquilo era uma tradição das duas, Jennie sempre ocupara o papel de melhor amiga e confidente de Lisa, desde o momento em que a morena teve a iniciativa de dirigir um simples 'oi' a Lisa. Elas eram como travesseiro e cama, complementando-se de maneira única. Além disso, havia Jisoo, o grande amor de Jennie, uma figura que desempenhava um papel significativo em suas aventuras conjuntas. Lisa sabia que era com Jennie e Jisoo que ela compartilhava as melhores histórias, bagunçava nas aulas e organizava festas do pijama repletas de risadas e memórias.

  Ao pensar que seria pega pelo professor, Lisa esconde o bilhete fútil no bolso do uniforme. É, após minutos de certeza, que ela se sente segura para retomar sua leitura, mas, o que sai do bolso não é o bilhete de Jennie, mas sim o maldito papel que a fez tombar no corredor. Lisa olha para aquela folha e, como se não tivesse o visto antes, percebe que se tratava de um folheto, como ela não havia percebido antes?! Sem nada a perder, ali, sem ligar para os assuntos da geopolítica, a ruiva dá início à análise do objeto em suas mãos. 

  Nas palavras impressas, com simplicidade, estava a promessa de um torneio de truco, um jogo de cartas profundamente enraizado na cultura latina, com uma recompensa substancial aguardando a dupla vencedora. Seus olhos brilhavam com desejo de participar do torneio, era intenso só de pensar, o jogo, a ansiedade, a loteria de cartas, as possibilidades, a sincronia da equipe, a tensão… tudo era como uma dança de estratégia e astúcia que desafiava os jogadores a prever os movimentos de seus oponentes e, naquele momento, era como se ela voasse.

  No entanto, segundos depois da frenesi, Lisa praticamente desabou já que havia um gigantesco problema: era fato que nem Jennie, nem Jisoo se candidatariam para disputar o torneio consigo, então, ela não tinha dupla.

  E ela sequer conhecia algum possível candidato para ser sua metade.


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