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Chapter 29: Entre Dois Homens

"Não é o que você está pensando Jun," Haruki começou a se explicar e foi interrompido.

O Bad Boy parecia estar com mais raiva depois de ouvir as primeiras palavras do cantor.

"Eu não pensei que ouviria isso de você Haruki," Jun grunhiu as palavras.

Eles se encaram em silêncio.

Haruki sabia que essa frase era comum em novelas e filmes, e a pessoa geralmente era culpada, ao entender que não começou bem sua explicação, acabou por se manter calado.

Haruki se questionou com súbita raiva, 'Afinal por que eu tenho que me defender? E mais, por que eu devo me explicar?! Jun que pense o que quiser.'

E para o homem a milímetros de si perguntou, "Por que Jun? Por que você se importa tanto?! Afinal, o que você quer comigo me cercando assim?"

"...!"Jun ficou atônito mas respondeu, "Por quê? Você não é capaz de ver? Ainda não entendeu que eu … Eu estou vendo você entrar num caminho sem volta, e sei bem onde isso vai parar!" Jun parecia angustiado.

"E daí? A vida é minha! Eu não estou interessado, mas se estivesse interessado, isso é um problema meu, não acha?" Haruki desafiou, sentindo-se um pouco bobo mas também inflamado por toda essa implicância.

"Bom! Muito bom! Se você vai ficar interessado, interesse-se por mim!" Jun se aproximou até tocar seu peito no peito de Haruki e seus rostos ficaram a centímetros de distância. "Eu posso satisfazer sua curiosidade garoto!" Ele sussurrou as palavras.

Haruki sentiu o frio da parede em suas costas, ele havia recuado sem perceber e agora estava preso entre a parede e Jun que respirava pesado demonstrando seu desejo. Seu hálito era agradável e o calor de seu peito era bom. Haruki fechou os olhos para não encarar os olhos diabólicos do Bad Boy. Ele sentiu o padeiro colocar uma pena entre as suas. As mãos de Jun pegaram seus pulsos o obrigando a levantar os braços acima da cabeça, onde Jun juntou os juntou. E passou a segurar com apenas uma mão. A outra ele desceu até seu rosto e o fez levantar o queixo.

"Abra seus olhos, olhe pra mim," Jun pediu.

Haruki obedeceu e o encarou.

"Eu sou o seu dono a partir de agora. Pegue suas coisas e venha para meu o quarto." O Bad Boy exigiu.

'Mas que filho da puta!' Haruki ficou corado de vergonha porque estava esperando um beijo, mas o que recebeu foi uma prova incontestável da falta de caráter de Jun, ele só não queria perder para seu rival.

O cantor riu de nervosismo, "Ahhh que bom que se revelou agora, Jun! Agora ficou nítido que vocês me elegeram como um prêmio nessa disputa ridícula de alfa entre os dois. Esse é um conceito ultrapassado, sabia? E se me puder fazer um favor, não fale mais comigo a não ser o estritamente necessário." O cantor tentou se soltar, sem sucesso.

O padeiro não rebateu suas palavras, apenas o humilhou mais um pouco o mantendo preso o quanto quis até se cansar dessa brincadeira idiota e soltá-lo.

Haruki precisou se esforçar para não gritar de ódio e nem chorar de impotência.

Ao se ver livre saiu do quarto que era de Jun indo para o quarto que foi seu. Ele não queria ver mais ninguém hoje. Só queria que esse maldito dia acabasse.

A chuva não deu trégua, caindo forte e fazendo barulho. Os relâmpagos e trovões dominavam a natureza assim como os ânimos do cantor. Haruki buscava em sua mente uma saída para escapar dessa disputa. Enquanto se recriminava por ter querido conhecer o sabor do beijo de Jun.

Sem muita vontade, mas precisando colocar uma ordem em seu caos pessoal, ele saiu do quarto e foi procurar comida. Encontrou Daisuke no corredor, e desceram conversando. O influencer estava ocupando seu tempo de forma bem mais produtiva, Haruki descobriu. Ele havia feito diversas perguntas ao mordomo artificial e descobriu que este não percebia os espaços feitos pelo amigo do cantor. Eram zonas fantasmas, salas secretas fora do jogo. Haruki também tinha percebido que o influenciado digital não comentava sobre a mancha em seu pescoço apesar de às vezes olhar de forma discreta para o lugar.

Saito estava na cozinha com Hinata e Takashi. O aventureiro tinha feito comida de acampamento e estava separando um bento. "Ei rapazes, que bom que chegaram," Saito falou sorridente e estendeu a marmita para o cantor. "Pegue aqui Haruki, eu estava separando para você. É bom para dias úmidos, ajuda a manter o corpo quente."

Haruki pegou mesmo sem querer, apenas para não ser rude. Corou com esta deferência. Em particular iria pedir ao amigo para não fazer mais isso. Todos agora iriam ter certeza que eles eram um casal.

O guisado estava ótimo, e por ter gengibre ralado ajudou a passar o mal-estar que Haruki ainda sentia na traquéia, quando ele percebeu que já tinha comido tudo.

Daisuke continuou seu interrogatório fazendo perguntas a Ita, agora sobre a personalidade de Abe Miyu. As respostas do mordomo andróide descreviam uma garota gentil, meiga, inocente que estava longe de ser a moça cheia de curiosidades e mal-educada que todos conheceram.

Haruki os deixou para voltar ao quarto de Saito e fazer a mudança, ele era um homem experiente e compreenderia o motivo.

O cantor já havia pego suas coisas quando Saito veio para a suíte e ao vê-lo com o baú franziu a testa perguntando, "Haruki está com tanto medo de mim assim?"

"Não é isso Saito. Eu entendi o que aconteceu de manhã. É que isto," Haruki indicou o hematoma, "está gerando muitos mal-entendidos e eu quero que os rumores parem. Obrigado por sua gentileza." Haruki se curvou.

"Hm isso não é bom. Deixa que eu te ajudo. Eu trouxe. Eu levo. E se alguém perguntar, porque você está dormindo no chão... Então contaremos dos rumores," Saito o encarava e sua voz cansada parecia triste.

O aventureiro estendeu os braços para pegar o baú e Haruki sentiu uma ponta de arrependimento. 'Que idiota que eu sou. Saito é só um cara legal. Eu pensei besteira e agora vou voltar para o chão.' E rancoroso Haruki ainda culpou seu crush, 'Jun seu idiota!'

O CEO pegou o baú e saiu do quarto. O cantor saiu atrapalhado atrás de Saito que já estava no corredor.

Haruki se adiantou e abriu a porta para Saito entrar com suas coisas. Ele escolheu uma parede para por o baú. E foi até o futon no chão. O pegou e levou para o corredor onde o bateu para limpar e tirar o pó. Voltou e o colocou no mesmo lugar no chão.

Saito se sentou em seguida e olhando para Haruki ainda parado ao lado da porta com a mão na maçaneta comentou, "De quem você ouviu que havia rumores?" Saito perguntou sem encará-lo.

O cantor entrou fechando a porta. Sentou-se ao lado do aventureiro. Arrumando a coluna ele suspirou antes de responder, "Apenas estão olhando quando eu olho para outro lado. Não perguntaram como foi realmente. Só imaginaram o que parece ter sido," Haruki explicou, mas sabia que não era inteiramente verdade. Jun quis saber, Hinata quis saber. Porém Haruki não queria expor as pessoas. Ele não queria admitir que por desejar Jun, teve pensamentos errados das intenções do aventureiro. Haruki o tinha julgado mal por saber de sua história.

"Eu sei. Os olhares. Eu não sei se vão parar, e imagino que existe entre nós uma pessoa compreensiva e esclarecida o suficiente para não julgar sem conhecimento. Quanto aos outros, eu não sei. Mas, o que me importa mesmo, é saber se um deles está te maltratando, ofendendo, e ameaçando. Espero que você confie em mim o suficiente para contar. Não pense que eu estou achando que você é frágil ou incapaz. Mas digamos que… Eu tenho experiência. Eu posso ajudar. Boa noite."

Haruki sabia que devia estar grato e aliviado de ter saído da suíte de Saito, mas as palavras compreensivas só o fizeram sentir se um tolo.

'Esse lugar está mexendo comigo. Eu não tinha como saber realmente as intenções de Saito antes desta noite.' Haruki procurava se consolar justificando seus atos. E ele até foi para a lembrança mais assustadora de Saito, o enforcamento de manhã, quando uma leve batida na porta o tirou de seus pensamentos.

"Entre," Haruki imaginou que Saito voltou para lhe trazer uma coberta, ou algo assim.

Mas era Jun. Ele trazia um bento. "Haruki, me perdoe por mais cedo. Eu não te vi comer hoje, então pensei…"

"Eu comi. Saito fez uma sopa deliciosa para todos, mas eu acho que você não ficou lá para saber." Haruki foi rude interrompendo Jun e falando de seu desafeto. Continuou ao ver que Jun estava mudo, sem uma resposta para o que ouviu.

O cantor prosseguiu, "Feliz agora? Por me ver aqui no chão. Saiba que eu fui um idiota ao cair nessa _ ah ele é isso ele é aquilo. Pois saiba que Saito é um cara legal e é meu amigo. Se você continuar a ofendê-lo, só vai conseguir é ficar isolado aqui. Eu quero dormir agora. Você pode ir embora por favor?"

Jun estava branco e calado. Ele colocou o bento ao lado de Haruki, e sentou-se na sua frente de pernas cruzadas, ao invés de ir embora para surpresa de Haruki.

"Eu sou péssimo com palavras, péssimo com atitudes, e péssimo para pedir desculpas. Mas eu preciso falar. Duas coisas. Uma delas, é que você está enganado sobre este cara, mas eu não vou tentar provar nada para você sobre ele. Você está certo, eu não quero fazer disso uma disputa." Jun discursou contendo a raiva, e buscando uma conciliação com o cantor.

"Hm… E a segunda coisa?" Haruki não queria dar o braço a torcer nem se iludir com o tom ponderado e resignado de Jun.

"Devemos falar sobre esse desejo que temos um pelo outro, não acha? Eu só sei que eu não sei lidar com isso, cara."


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