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Capítulo 29.2 | História Paralela - Amigas, eternamente

No dia em que me tornei amiga de Bianca levei uma grande bronca de minha mãe. Não conseguia entender o que havia feito de errado, mas o que mais doía era a forma como ela se referia a minha nova amiga, ela não tinha o direito de ter uma vida feliz como todos os outros? Ficar apenas calada é impossível, foi a primeira e a última vez que a respondi.

Fugi de casa logo depois de nossa discussão, seguia em direção a praia, o único lugar que veio a minha mente naquele momento, além disso quando estou chateada costumo olhar para o mar, é relaxante de certa forma. Apenas me sentei na areia e comecei a chorar.

Algum tempo havia passado, não muito, para mim passaram apenas alguns segundos, mas provavelmente já havia passado um tempo considerável.

— Acho que eu deveria voltar, eles irão ficar preocupados comigo — falo olhando para o céu estrelado.

Dentro da vila não dá para ver as estrelas tão bem assim, é uma visão que mesmo vivendo em um povoado pequeno não se vê todo dia.

— Finalmente te achei. — Ouço uma voz masculina familiar.

Olho para trás, dirigindo meu olhar para a direção de onde havia vindo a voz, lá estava meu pai. Sempre me dei bem com meu pai, me entendia como nenhum outro chegou a entender, não seria estranho afirmar que ele era meu melhor amigo, sempre que me sentia para baixo vinha falar comigo, mesmo quando eu tentava esconder.

Se senta ao meu lado, mas não diz nada, apenas fica olhando para o céu comigo, em silêncio. Sabia que ela não queria me forçar a falar, apenas esperava que eu desse o primeiro passo, e se quisesse, contasse o que havia acontecido, o que eu fiz depois de poucos instantes.

— Então não há porque se preocupar, você apenas fez uma amiga — diz logo após eu terminar de explicar.

— Não vai me dizer para parar de falar com a Bianca? Igual minha mãe... — por mais que eu soubesse que ele não diria algo assim desejei uma confirmação.

— Claro que não. Porque eu faria algo assim? Você deve escolher suas próprias amizades. Meu dever como pai é lhe apoiar em suas escolhas, caso algo dê errado estarei aqui também, para te ajudar.

Olha para mim sempre focando em meus olhos, assim como havia me ensinado, uma forma de demonstrar confiança para as outras pessoas.

— Mas, minha mãe...

— Você precisa pensar no que quer fazer, você "quer" ser amiga dela?

— Claro! — respondo em alto em bom som.

— Então apenas seja, sua mãe vai aceitar com o tempo, espere e veja.

~3 anos atrás~

Acabam de fazer dois anos que me tornei amiga de Bianca. No começo minha mãe brigava comigo sempre, era quase parte da minha rotina ouvi-la falar de nossa amizade, mas com o tempo ela acabou desistindo de reclamar comigo. Teimosia talvez seja a minha maior força.

— Não. — Bianca diz se escondendo embaixo de suas cobertas. — Definitivamente não quero sair daqui.

— Levante-se logo — digo suspirando. — Você mesma disse, não consegue evitar uma visão, então apenas encare logo.

— Você pode até estar certa, mas também tem algo que eu nunca tentei. — Seu som saia um pouco abafado por estar com tanto pano em cima de si.

— Que seria? — pergunto.

— Ficar deitada na cama, desta forma nunca vai acontecer.

Sinto uma pontada na testa.

— Que tipo de idiotice é essa? — grito puxando suas cobertas.

Não costumamos brigar muito, mas algo aconteceu neste dia específico. Bianca havia tido uma visão, a primeira desde que nos tornamos amigas, me contou que era cercada por dois garotos. Como suas visões costumam mostrar coisas ruins ela teve a conclusão de que eles iriam a amedrontar.

— Já te disse, se alguém ousar te intimidar vou quebrar a cara de todos eles na porrada — falo.

Pode parecer estranho uma garota de apenas doze anos falando em proteger alguém dois anos mais velho, mas foi assim que nossa relação acabou se desenvolvendo nesses anos que passamos juntas. Bianca é muito tímida e tem medo de se defender, além disso também é baixa demais para sua altura, então não pareço ser mais nova que ela, pelo contrário.

A obriguei a sair de casa, como sempre apenas andamos pela cidade por algum tempo e em seguida fomos ficar matando um pouco de tempo na praia, porém hoje algo estava um pouco diferente, faz algum tempo que vi dois garotos nos seguindo, Bianca parece não ter percebido. Mas que azar pensar que a visão aconteceria tão rapidamente.

— Bianca, chegue mais perto. — A chamo.

Contei um pequeno plano que havia elaborado. De início ela não queria seguir, mas com um pouco de persuasão ela acaba aceitando participar. Finjo me separar dela.

~Pov Bianca~

Pouco tempo depois de me separar de Clara os garotos que nos seguiam se aproximam. Um deles já me era familiar, morava perto de minha casa e conversávamos antes do incidente com meus pais, até tentou falar comigo algumas vezes, mas sua mãe sempre o impedia.

— Bi... Bianca, eu gostaria de te falar algo... — Ele parecia nervoso.

Vejo Clara passando correndo por trás deles nesse momento.

— Calma Clara, ele não... — Tento falar algo, mas é tarde demais.

A cena que se seguiu foi idêntica àquela do dia em que nos conhecemos. Clara chuta areia que vai direto nos olhos dos garotos, em seguida uma madeira é arremessada, acertando o rosto daquele que tentava falar comigo enquanto gaguejava.

— Eu... Eu acho que ele não queria me intimidar — falo olhando para a garota que ria e fazia um sinal de vitória com os dedos para mim.

— Que?

~Pov Clara~

O plano foi realizado com grande maestria, houve apenas um problema, acabei acertando eles sem que merecessem isso.

— Sinto muito. — digo depois de o levantar.

— Que tipo de pessoa ataca primeiro e pergunta depois? — diz passando a mão onde a madeira havia acertado.

Depois de algum tempo finalmente conseguimos falar normalmente.

— Me chamo Curt e jamais tentaria intimidá-la — fala com um pouco de indignação em sua voz.

— Então me diga porque tentou falar com ela apenas quando saí de perto? — Sinto que todos ali estão com um pouco de medo de mim, agora entendo o sentimento dos garotos.

— Você dá medo, dizem que todos os garotos que se aproximam de você apanham na mesma hora.

Desta forma descobri que todos os garotos da vila tinham medo de mim. Depois de algum tempo de reclamação ele se vira para Bianca.

— Eu... mesmo quando nós conversávamos... — Seu amigo dá um pequeno empurrão em suas costas. — Por favor saia comigo, gosto de você Bianca — diz rapidamente.

— Não obrigado.

Uma resposta imediata, Bianca não tem piedade alguma. O garoto abaixa sua cabeça com o rosto vermelho, sua declaração foi recusada com uma resposta avassaladora, nem ao menos um segundo pensando.

— Porque? — pergunta.

— Bom, nem ao menos temos uma relação próxima, também não sinto algo por você.

Suas palavras são destruidoras, mas sua expressão é calma e tem um lindo sorriso, não está fazendo por mal, na verdade tenho certeza que nem está notando.

— Então vamos ser amigos! — diz Curt ainda um pouco abatido.

— Não obrigado.

— Mais um vez recusado instantaneamente? — digo espantada.

— Como posso me tornar amiga de alguém assim do nada? — pergunta. — Podemos conversar, claro, mas apenas nos tornamos amigo de alguém com o tempo.

Consigo me lembrar do incidente em que nos conhecemos, apesar de suas palavras comigo foi diferente. Olho para Bianca, estava olhando diretamente para mim com um sorriso no rosto, tenho certeza que consegui ouvi-la dizer "mais um igual a você".

Desta forma ganhamos mais duas pessoas para nosso grupo, na verdade a entrada destes novos membros foi meio que forçada. Curt e seu amigo, para dizer a verdade não lembro o nome do segundo...

~Alguns dias após conhecer Curt~

Estava mais uma vez na casa de Bianca, nesses dias estava passando mais tempo aqui do que em minha própria casa. Estávamos deitadas em sua cama conversando.

— Pelo menos dessa vez não foi algo ruim. — Bianca diz aliviada.

— Eu te disse, se pensar que sempre o pior vai acontecer irá apenas ficar louca.

Bianca apenas concorda balançando a cabeça.

— E o Curt? — pergunto.

Observo Bianca, quando falo o nome de Curt ela dá um sorriso meio torto, essa é uma mania que eu percebi dela, quando algo é desconfortável seu sorriso fica assim.

— Você fez! — falo.

— O que? — pergunta assustada.

— Aquele seu sorriso de "não quero falar disso".

— Eu não faço isso — diz com a cara fechada.

— Claro que faz — afirmo. — No outro dia quando um aventureiro veio falar com você perto da guilda foi a mesma coisa.

— Sério que eu faço isso? — diz espantada.

— Toda hora... — Isso acaba me fazendo pensar em algo. — Eu tive uma ideia!

— Não tem nada haver com testar quantos passos você consegue dar na água antes de afundar né? — Bianca diz se sentando enquanto dá uma pequena risada.

— Não, desta vez é diferente — respondo. — Espera um pouco, já não disse para esquecer isso?

Ela ri mais uma vez, agora diferente de quando nos conhecemos, Bianca está muito mais feliz. Eu sei, eu sei, sou demais.

— Que tal isso? Toda vez que você precisar da minha ajuda para algo e não puder falar da um sorriso de canto assim, eu farei a mesma coisa — falo animada.

— Pra que isso? — pergunta.

— Só faça, vai ser um código secreto entre nós duas.

Depois disso começamos a fazer, claro que foi por livre e espontaneamente forçado por mim, toda vez que alguém ia incomodar Bianca ela fazia. Eu basicamente ficava fazendo o sorriso toda vez que via amigas da minha mãe cochichando e olhando para mim, realmente virou um código entre nós duas.

~Dia da luta na floresta~

— Desculpa — falo baixo.

Nem ao menos sei se ela conseguiu me ouvir. Não estou me desculpando por não conseguir lutar, apenas estou pedindo perdão por deixá-la sozinha mais uma vez. Não conversamos muito sobre a época em que ela ficava sempre sozinha, apenas fingimos que sempre nos conhecíamos desde sempre. Talvez desta forma pudesse esquecer o que havia passado antes.

Esse meu último sorriso foi o do nosso código secreto, porém irei mudar o significado uma única vez. Não quero sua ajuda, sei muito bem que não há forma de sair desta. Com esse último sorriso quero transmitir para você meus sentimentos. Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida, também me ajudou em todo meus momentos difíceis e estava ao meu lado sempre que precisava. Obrigada por tudo.

~Obteve o título "A amiga"~

Adeus.


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